sábado, 24 de julho de 2010

Autor do Livro: Jornalista Ivo Patarra
CAPÍTULO 6 CONTINUAÇÃO (Parte 43 de 51)

- O Vladimir, o doutor Rogério, o doutor Ralf, sim.
- Por que o senhor decidiu contar tudo isso agora?

- É porque o Francisco depôs na CPI e citou a mim e minha mulher. Fiquei meio com medo e resolvi falar logo.

A entrevista de Francenildo Santos Costa repercute. Ao tomar conhecimento do teor das declarações do caseiro, antes mesmo da publicação da entrevista, Antonio Palocci apressase a informar, por meio de sua assessoria, que reiterava o que dissera à CPI dos Bingos:

“Nunca foi à casa do Lago Sul e, portanto, não tem qualquer relação com as atividades realizadas na mesma”.
Publicada a entrevista, Antonio Palocci aproveita a participação numa teleconferência para tratar de desmentir o caseiro. Diz o ministro:
- Quero até ressaltar que eu não guio aqui em Brasília. Uso carro oficial ou ando com a minha esposa.

Em mais uma nota, a assessoria do ministro da Fazenda volta à carga:

“O ministro Antonio Palocci continua afirmando o que disse à CPI dos Bingos. Ele não foi àquela casa no Lago Sul e não tem conhecimento de qualquer atividade que acontecia na casa. E mais: o ministro não sabe dirigir em Brasília.”

O Conselho de Ética da Câmara aprova, por 9 votos a 5, pedido de cassação do expresidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP). Em seu parecer, o relator do caso, deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS), acusa Cunha de mentir sobre o saque de R$ 50 mil feito por sua mulher. Cunha disse que ela foi ao banco tratar do pagamento de uma conta de TV a cabo, mas a mulher sacou dinheiro do caixa 2 do PT. Entre as denúncias, Cunha é acusado de favorecer Marcos Valério ao conduzir licitação irregular para contratar a agência SMPB, de Valério, para administrar conta de publicidade da Câmara.
Para o relator, a contratação da SMPB tem “conflito de interesse”, pois Cunha já contratara Valério anteriormente, para a campanha à presidência da Câmara. Além disso, Cunha admitiu que Valério lhe dera uma caneta Mont Blanc. O empresário pagou passagens aéreas para uma assessora de Cunha.
Cezar Schirmer vincula a conquista da conta de publicidade da Câmara ao saque de R$ 50 mil efetuado na agência do Banco Rural do Brasília Shopping, apenas um dia após Cunha receber Valério para café da manhã na residência oficial. O relator também viu irregularidades em notas fiscais com números sequenciais. Elas foram apresentadas por Cunha, para tentar justificar os R$ 50 mil sacados pela mulher. O dinheiro pagaria pesquisas eleitorais.
Novas informações sobre as contas bancárias do publicitário Duda Mendonça no exterior.
Documentos enviados por autoridades norte-americanas à CPI dos Correios revelam a existência de mais seis contas secretas. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, foi identificada a Stuttgart Company, empresa de Duda Mendonça fora do Brasil. No total, são dez as contas no exterior. Das seis novas, a metade foi aberta no BankBoston da Flórida, em nome da Stuttgart Company, de Rita de Cássia Santos Moraes, ex-mulher de Duda Mendonça, e de Eduardo de Matos Freiha, sócio do publicitário. As outras três pertencem à Dusseldorf. Uma delas, no BAC Florida Bank, recebeu US$ 1,1 milhão. Doleiros teriam depositado o dinheiro.
Dia 306
15/3/2006 Francenildo Santos Costa concede entrevista coletiva. Diz que o ministro Antonio Palocci (PT-SP) esteve várias vezes na “casa dos prazeres”, entre 2003 e 2004. Segundo o caseiro, Antonio Palocci costumava ir à mansão “quinta-feira sim, quinta-feira não”, além de alguns sábados e domingos.
Francenildo Santos Costa conta que havia sempre uma mulher nas noites de quinta em que Antonio Palocci esteve na “casa dos prazeres”. Normalmente Vladimir Poleto ou Ademirson Ariosvaldo da Silva, secretário particular do ministro, a traziam. Ademirson Ariosvaldo da Silva vinha com um carro Santana preto, com placas de Ribeirão Preto (SP).
O caseiro relata que Palocci chegava às 18 ou 19 horas, sempre guiando o Peugeot de Ralf Barquete, e ia embora às 20h30, outras vezes às 22 horas, “não tinha hora certa”. Ele afirma, contudo, que Palocci não participava de festas promovidas pelo grupo de pessoas de Ribeirão Preto, sempre com três ou quatro garotas, às terças-feiras. Deputados do PT, uns “cinco ou seis” de acordo com o caseiro, também estiveram nas festas. Palavras do caseiro:
- Entrei numa barca furada. Pensava que eram pessoas honestas, e não eram. No final era essa sujeira que está aí. Pessoas que fazem esse tipo de coisa não deveriam estar num cargo lá em cima.
Francenildo Santos Costa recorda que algumas garotas, certa vez, teriam consumido drogas, o que revoltou Vladimir Poleto. Ele telefonou para alguém e disse que não queria mais aquelas mulheres na casa. O caseiro fala sobre a noite em que conversou com Palocci pelo interfone:

- Eu estava fechando a casa quando tocou o telefone. Ele disse: “Estou perdido aqui e tô querendo sair”. Abri o portão dos fundos e ele foi embora.

A Câmara dos Deputados cassa o mandato do presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), por 261 votos contra 166. Apenas quatro votos a mais do que o mínimo de 257 necessários para a perda do cargo. Em compensação, os votos secretos absolvem o ex-líder do PP, deputado Pedro Henry (MT). Ambos foram acusados de envolvimento no escândalo do mensalão. Votam pela absolvição 255 deputados, contra 176 que pedem a condenação.

A principal acusação contra Pedro Henry veio de Roberto Jefferson (PTB-RJ). Ele disse que o pepista tentou cooptar dois deputados do PTB, oferecendo-lhes as vantagens do mensalão. O PP foi contemplado com R$ 4,1 milhões do caixa 2 do PT, conforme informações de Marcos Valério, mas só admitiu ter posto as mãos em R$ 700 mil. Trecho do relatório do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que apreciou o caso de Pedro Corrêa:

“O PP disse que o dinheiro foi utilizado para pagar o advogado para Ronivon Santiago.
Era dinheiro repassado pelo PT. No Acre, o PT movia ações contra Ronivon, mas aqui, no plano federal, o PT fornecia recursos para defender Ronivon; lá, o PT apontava fraudes contra Ronivon, mas aqui oferecia subsídios para o deputado.”
O TCU (Tribunal de Contas da União) decide investigar contrato de publicidade da Petrobras com a agência Duda Mendonça Associados. O contrato inicial, de dezembro de 2003, previa pagamentos no total de R$ 63 milhões por serviços prestados pelo publicitário.
Num primeiro aditivo, o valor subiu em R$ 21,5 milhões. Até dezembro de 2005, o contrato sofreu mais seis alterações, e alcançou um teto de R$ 213,9 milhões.
Em depoimento à CPI dos Correios, Duda Mendonça silencia. Munido de habeas-corpus para não ser preso, o publicitário recusa-se a responder até perguntas simples, como os nomes dos filhos e da mulher. “Não vou responder”, repete, várias vezes, Duda Mendonça.
Dia 307
16/3/2006 Depoimento do caseiro Francenildo Santos Costa à CPI dos Bingos é interrompido por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal). Autor do pedido de suspensão, o senador Tião Viana (PT-AC). Teria atendido solicitação de Lula. No recurso, o senador petista alega que eventuais informações prestadas por Francenildo Santos Costa não teriam relação com o objeto das investigações da comissão de inquérito. O ministro Cezar Peluzo, do STF, concordou com a alegação. Trecho do seu despacho:
“Eventual partilha de dinheiro, em certo local, não tem por si presunção alguma de que estaria ligada a uso de casas de bingo para a prática de crimes de ‘lavagem’ ou ocultação de bens, direitos e valores.”
Antes de ser interrompida a sessão da CPI, Francenildo Santos Costa já falara aos senadores por quase uma hora. Ele reafirmou que o ministro Antonio Palocci (PT-SP) frequentava a “casa dos prazeres”.
- Confirmo até morrer.
Ele lembra quando levou “bebida energética” ao ministro:
- Foi um dia na quadra de tênis. Levei vinho e Redbul. Foi entre as 3 e meia e 4 da tarde.
Sobre a primeira vez que viu Antonio Palocci:
- Na primeira vez, o Ademirson levou ele. Quando o carro chegou, vi ele saindo. No outro dia, comentei com o Francisco: “O chefe é o Palocci, né?”
Francenildo Santos Costa relata que soube pelo motorista Francisco Chagas da Costa de um desentendimento entre Rogério Buratti e Antonio Palocci:

- Ouvi do motorista que eles tinham brigado. Foi por causa de mulher.

Ele confirma que Rogério Buratti trazia dinheiro à mansão:
- Vi na mala do Vladimir quando ele fazia o pagamento. Era dinheiro que forrava o fundo da mala.
Rogério Buratti admite que a empreiteira Leão Leão contribuiu com recursos para pagar as despesas da “casa dos prazeres”, da mesma forma que a Rek, do empresário Roberto Carlos Kurzweil, e a Asperbras e a Soft Micro, estas duas do empresário José Roberto Colnaghi. Sobre a Leão Leão, diz ao repórter Mario Cesar Carvalho, da Folha de S.Paulo, que a empreiteira fornecia dinheiro para custear atividades como viagens e gastos com transporte, e foi assim que ajudou a pagar as despesas da mansão. Buratti afirma que não cabe a ele dizer se Palocci frequentava a “casa dos prazeres”:
- Não quero dizer se encontrei o ministro ou não na casa porque isso não cabe a mim, cabe ao ministro. Não nego que me encontrei com o ministro em Brasília umas cinco, seis ou sete vezes, seja no Ministério ou na casa dele. Para mim, isso não é crime. Por isso, não nego.
E mais:
- O que interessa saber é se ocorreram atividades ilegais ou ilícitas naquela casa. Eu posso dizer que nunca presenciei atividades ilegais lá.
O Ministério Público encaminha à Procuradoria-Geral da República lista com os nomes de 52 deputados do PMDB. A relação contém nomes de parlamentares de 21 Estados e do Distrito Federal. A lista englobaria todos aqueles que supostamente teriam rateado R$ 6 milhões para impedir a saída do ex-deputado José Borba (PMDB-PR) da liderança do partido, em fevereiro de 2005. Na época, o ex-governador Anthony Garotinho (PMDB-RJ) teria articulado um movimento dentro do partido para derrubá-lo do cargo.
Dia 308
17/3/2006 O site da revista Época na internet divulga extratos bancários do caseiro Francenildo Santos Costa. Pertencem a uma conta da Caixa Econômica Federal. A agência fica no Lago Sul, em Brasília. Os documentos bancários, sigilosos, foram emitidos às 20h58 da noite anterior.
Mostram depósitos de R$ 25 mil na conta do caseiro da “casa dos prazeres”.

A revista Época também publica que Francenildo Santos Costa reconhece a autenticidade dos extratos bancários, e afirma que o dinheiro veio de seu pai biológico, Eurípedes Soares da Silva, dono de pequena empresa de ônibus em Teresina. Ele havia mandado o dinheiro em segredo, pois nunca reconhecera Francenildo como filho. Escondera o relacionamento que tivera com a mãe do caseiro. Eurípedes Soares da Silva confirma aos repórteres Andrei Meireles e Gustavo Krieger ser o autor dos depósitos.

Os extratos publicados por Época caem como uma bomba em Brasília. Da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL):
- Esse governo consegue liminar para proteger os direitos sexuais do Palocci e seus esquemas de corrupção, e invade os direitos individuais de um rapaz.
Do senador Pedro Simon (PMDB-RS):
- A CPI até agora não conseguiu quebrar o sigilo de Paulo Okamotto, mas o caseiro teve a conta devassada um dia depois de o STF nos proibir de ouvi-lo.

Em entrevista, Francenildo Santos Costa manifesta indignação:

- Mexeram nas minhas contas. O que posso esperar mais? Por que fizeram isso comigo?

Por que não fizeram com o chefe?

Em Santa Catarina, Lula é enfático:

- Eu devo muito, mas muito de tudo o que nós fizemos, a um homem chamado Antonio Palocci.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, descarta a abertura de investigação contra o ministro da Fazenda:
- A Polícia Federal, nesses três anos, nunca se prestou a esse tipo de exploração política, e não será agora que vai fazê-lo. Palocci está fazendo um grande trabalho pelo País, é merecedor de toda a confiança do presidente Lula, do governo e da sociedade, e não será afastado do cargo.

A mãe de Francenildo Santos Costa, a lavadeira desempregada Benta Maria dos Santos Costa, confirma que Eurípedes Soares da Silva é o pai do rapaz. Ela explica ao repórter Expedito Filho, do jornal O Estado de S. Paulo, que o empresário fez um acordo com o caseiro, para evitar que o assunto fosse parar na Justiça. A família de Eurípedes Soares da Silva não sabia que Francenildo é filho dele. Diz Benta Maria dos Santos Costa:

- O Eurípedes começou a enviar o dinheiro porque ficou com medo de “Nildo” entrar na Justiça e obter registro com o nome do pai.

Benta Maria concedeu entrevista em Nazária (PI), onde vive:

- Meu filho é um simples caseiro, sim, mas criei ele sozinha para ser um homem honesto e falar toda a verdade. O que adianta ser filho de papai e mamãe e não falar a verdade?

O repórter também ouve o pai do caseiro. Diz Eurípedes Soares da Silva:
- Para me amedrontar, ele disse que falaria para minha família. Aí, me derrubou todinho.

Mandei o dinheiro para evitar um escândalo para minha mulher e minhas duas filhas.

O motorista Francisco Chagas da Costa reafirma declarações do caseiro Francenildo Santos Costa, o “Nildo”. De fato, ambos levaram envelope com dinheiro, a pedido de Vladimir Poleto, ao estacionamento do Ministério da Fazenda. Ali, a encomenda foi entregue a Ademirson Ariosvaldo da Silva, secretário particular do ministro Antonio Palocci. O repórter Leonardo Souza, da Folha de S.Paulo, entrevista Francisco Chagas da Costa. O jornalista pergunta sobre a relação de Antonio Palocci com o advogado Rogério Buratti:
- Sempre que o Buratti vinha a Brasília ele se encontrava com Palocci?

- Quando não se encontravam, se falavam no telefone.

- O senhor presenciou encontros de Palocci com Buratti?
- Às vezes em que se encontravam era na casa.

- Quantas vezes eles se encontraram na casa?

- Não sei, muitas vezes. Se eu falar dez vezes, quatro vezes, estou mentindo, né?

Muitas vezes.

- O senhor viu Palocci na casa?

- Eu vi ele entrando na casa. Ele ia de carro.

- Em que carro?
- Um Pegeout prata, de propriedade de Ralf Barquete.
Dia 310
19/3/2006 Mais evidências do relacionamento estreito entre o ministro Antonio Palocci (PT-SP) e a empreiteira Leão Leão. O corretor de imóveis Carlos Magalhães intermediou o aluguel de uma casa no setor de mansões Dom Bosco, bairro nobre de Brasília, a integrantes da “república de Ribeirão Preto”. O imóvel foi alugado pelo grupo em 2003, antes da “casa dos prazeres”. A locação, de R$ 9 mil, foi feita por Rogério Buratti e Ralf Barquete, em nome de um tal Osvaldo. Ele seria ligado à Cinco Telecom, empresa da qual Rogério Buratti também é sócio, informa a Folha de S.Paulo.

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