segunda-feira, 19 de julho de 2010

Frase bem apropriada:
"Enquanto lá, os alemães têm um polvo que sabe de tudo, os brasileiros aqui, têm uma Lula que nunca sabe de nada."


Autor do Livro: Jornalista Ivo Patarra
CAPÍTULO 6 CONTINUAÇÃO (Parte 38)


SP). Venceslau relata que enviou cópias da carta encaminhada a Lula a várias lideranças do PT, entre as quais os senadores Aloizio Mercadante (PT-SP) e Eduardo Suplicy (PT-SP):
- Levei a denúncia para o Aloizio. Ele ficou chocadíssimo e disse: “Isso é nitroglicerina pura”. Mas não fez nada. Afirmava que tentava e não conseguia. O silêncio continuou.

Entre os conhecedores do esquema, Venceslau cita lideranças petistas, a saber: Gilberto Carvalho, Paulo Frateschi, José Genoino, Arlindo Chinaglia, Luiz Eduardo Greenhalgh e Paulo Okamotto, que ocupou a função de arrecadador de dinheiro para o partido. Venceslau lembra-se do recado que diz ter recebido na época de Frei Betto, amigo de Lula:

- Para explicar a situação, Frei Betto falou: “Se o Lula souber que alguém está conversando com você, ele jura que aquela pessoa vai ser decapitada do partido”. Ninguém teve ousadia ou coragem para ficar do meu lado.

Venceslau acusa Paulo Okamotto:

- O Paulo, que não tinha função nenhuma no partido, me chamou de lado e me admoestou, dizendo: “Olha, rapaz, você precisa ter cuidado com o que fala”. Ele era o bate-pau, o pau mandado que executa qualquer tarefa, não quer saber se é lícito ou não. O mesmo Paulo, que hoje é presidente do Sebrae, pedia nas prefeituras do PT a lista de empresários fornecedores, que tinham dinheiro para receber, com objetivo de visitá-los.

Para Venceslau, o seu afastamento da Prefeitura de São José dos Campos, em 1993, decorre do veto que impôs ao contrato com a Cpem. Entrevistada, a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), ex-prefeita do município, afirma que Venceslau foi demitido devido a “dificuldades de relacionamento”, mas reconhece que auditoria na época constatou fraude e o contrato com a Cpem foi interrompido. Em relação a Paulo Okamotto, a ex-prefeita confirma que ele a procurou, atrás da lista de empresas fornecedoras da Prefeitura:

- Okamotto não era um Marcos Valério, estava mais para Delúbio. O que fica desse episódio é que se conhecia o esquema de arrecadação paralela há muito tempo, desde 1993.

Questionada se considerava normal o procedimento de Paulo Okamotto, Ângela Guadagnin dá a seguinte resposta:

- Não estou dizendo se era dinheiro ou caixa 2, mas que ele poderia se apresentar a um fornecedor, a qualquer empresa, e solicitar uma doação.

Técnicos da CPI dos Correios identificam 82 depósitos em dinheiro, sem registros dos nomes dos depositantes, nas contas bancárias do BankBoston ligadas ao publicitário Duda Mendonça e à sócia dele, Zilmar Fernandes da Silveira. Os depósitos somam R$ 2,2 milhões, sendo que 46 deles foram feitos a partir de 2003. Zilmar Fernandes da Silveira recebeu 41 depósitos sem identificação. O maior deles, de R$ 255 mil, em 20 de dezembro de 2002, logo após a eleição de Lula. O depósito mais alto saiu em nome da Comunicação e Estratégia Política, empresa de marketing de Duda Mendonça. Recebeu R$ 400 mil em 31 de agosto de 2004, ano de eleições municipais.
Dia 250
18/1/2006 A CPI dos Bingos apresenta relatório preliminar sobre o caso Caixa Econômica Federal/Gtech, que investiga contrato de R$ 650 milhões assinado entre a estatal do governo brasileiro e a multinacional norte-americana. O relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), solicita o indiciamento de três empresas e 34 pessoas. Entre elas, o presidente da Caixa, Jorge Mattoso, e o secretário particular do ministro Antonio Palocci (PT-SP), Ademirson Ariosvaldo da Silva. Fazem parte da lista Waldomiro Diniz, assessor do então ministro José Dirceu (PT-SP), e Rogério Buratti e Vladimir Poleto, do círculo ligado a Antonio Palocci (PT-SP) na época em que o ministro da Fazenda era prefeito de Ribeirão Preto (SP).
Para Garibaldi Alves, há indícios de que os grupos liderados pelos ministros Antonio Palocci e José Dirceu disputaram a propina da Gtech. Ele denuncia os suspeitos de envolvimento por formação de quadrilha, corrupção passiva, crime contra o procedimento licitatório e improbidade administrativa. O relator acrescenta os crimes de falsidade ideológica e tráfico de influência para Poleto, e os de lavagem de dinheiro e contra a ordem tributária para Buratti.
Também existem pedidos de indiciamento para Marcelo Rovai e Antonio Carlos Lino da Rocha, respectivamente ex-diretor e ex-presidente da Gtech. Segundo eles, Waldomiro Diniz e Rogério Buratti tentaram extorquir R$ 6 milhões da multinacional, para permitir a renovação do contrato. Rogério Buratti nega. Diz que a Gtech ofereceu até R$ 16 milhões em propina por novo contrato de operações de loterias com a Caixa.
Mesmo com todo o rolo, o contrato foi assinado.
Garibaldi Alves também quer a punição das empresas MM Consultoria e S. Santos Assessoria, de propriedade do advogado Walter Santos Neto. Ele recebeu R$ 5 milhões da Gtech, dinheiro suspeito de ser propina repassada pela multinacional, em troca do contrato.
O advogado teria atuado como intermediário. Para o senador, Walter Santos Neto mentiu ao justificar o uso do dinheiro investigado. Garibaldi Alves acusa Walter Santos Neto e funcionários dele de sacarem R$ 2,4 milhões em dinheiro vivo:
- Alguns desses saques foram feitos com carro-forte e entregues a ele em sua casa ou no escritório.
Dia 251
19/1/2006 Em depoimento à CPI dos Bingos, o motorista Éder Eustáquio de Macedo confirma que dirigiu o Omega blindado no qual viajaram Ralf Barquete, secretário de Finanças de Ribeirão Preto (SP), Vladimir Poleto, assessor do então prefeito Antonio Palocci, e as três caixas de bebida que conteriam dólares de Cuba destinados à campanha de Lula em 2002.
Nervoso e mostrando dificuldades para responder as perguntas, Éder Eustáquio de Macedo dá respostas monossilábicas e fica em silêncio durante longos períodos. Admite ter feito viagem do aeroporto de Amarais (SP) a São Paulo, mas garante não ter saído do carro em nenhum momento. A única coisa que fez foi abrir o porta-malas, acionando botão no painel do carro. Foram os passageiros que colocaram e retiraram a bagagem do porta-malas. Éder Eustáquio de Macedo diz que a carga foi deixada numa churrascaria em São Paulo, onde também ficou Vladimir Poleto. Ralf Barquete foi levado depois para o aeroporto de Congonhas.
Antes de depor, Éder Eustáquio de Macedo foi assessorado pelo advogado Hélio Silveira, defensor de Ademirson Ariosvaldo da Silva, secretário particular de Antonio Palocci. O escritório do advogado também teria quitado as despesas de hospedagem do motorista em Brasília. Éder Eustáquio de Macedo foi empregado como motorista do Ministério da Fazenda, no Rio.
Dia 252
20/1/2006 O Conselho de Ética da Câmara aprova, por 10 votos a 3, a cassação do mandato do deputado Wanderval Santos (PL-SP). Ele é apontado como beneficiário de R$ 150 mil do valerioduto. O dinheiro foi sacado por seu motorista no Banco Rural. Wanderval argumentou que não soube da operação bancária, e que os recursos foram retirados por ordem do ex-deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), que renunciou ao mandato para escapar da cassação.
No parecer em que recomendou a cassação, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) acusa Wanderval Santos pela prática de “mandato terceirizado”, “submissão interessada” e “submissão negociada” ao ex-deputado Carlos Rodrigues, ex-líder da Igreja Universal do Reino de Deus. Wanderval Santos também teria se desligado da igreja.
O jornal Folha de S.Paulo publica levantamento segundo o qual o publicitário Duda Mendonça fez transferências de R$ 4 milhões de conta do BankBoston nos dias que antecederam o depoimento dele à CPI dos Correios, em agosto. Transferiu R$ 500 mil a Marcelo Mascarenhas Kertész, seu genro, R$ 2,5 milhões à Nov Patrimonial, empresa que pertence aos cinco filhos do publicitário, e R$ 1 milhão para a agência Duda Mendonça Associados.
As duas primeiras transferências ocorreram em 5 de agosto, um dia após o policial David Rodrigues Alves prestar depoimento à CPI e afirmar que sacava dinheiro do valerioduto para entregar a Zilmar Fernandes da Silveira, sócia de Duda. A terceira transferência foi em 10 de agosto, um dia depois do jornal Correio Braziliense noticiar a existência da offshore Dusseldorf, por meio da qual Duda teria recebido recursos de caixa 2 pelos serviços de marketing prestados por ele durante a campanha eleitoral de 2002.
O caso Cuba. O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Nelson Jobim, impede a CPI dos Bingos de usar informações obtidas por meio da quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Roberto Carlos Kurzweil. O empresário é dono da locadora de automóveis que cedeu o Omega para transportar as três caixas de bebida nas quais teriam sido acondicionados dólares trazidos de Cuba para a campanha de Lula em 2002.
Dia 253
21/1/2006 Mais uma denúncia contra Duda Mendonça. De acordo com reportagem da revista Veja, o publicitário, familiares dele e a sócia Zilmar Fernandes da Silveira receberam ao menos US$ 15 milhões em cinco contas bancárias de agência do Bank of América, em Miami. “Tudo dinheiro de caixa 2”, escreve o repórter Marcio Aith. Uma das contas é ligada à offshore Dusseldorf, pela qual Duda Mendonça admitiu que pôs as mãos em R$ 10,5 milhões, transferidos pelo valerioduto, para pagar os serviços prestados à campanha eleitoral de 2002. A bolada equivaleu a US$ 3 milhões.
A segunda conta é anterior, de 1993. Está em nome de uma outra empresa no paraíso fiscal das Bahamas, mas o beneficiário é Duda Mendonça. Ficava originalmente no BankBoston, fundido em 2003 ao Bank of América. Por essa conta, o publicitário teria recebido US$ 8 milhões, “das mais suspeitas e remotas origens”. Da reportagem:
“Como nunca declarou ao fisco, pode-se dizer que sua incursão no mundo do caixa 2 não nasceu com o petismo, como jura às lágrimas. Já dura pelo menos 13 anos. As outras três contas do ‘dudaduto’ no Bank of América não são propriamente do publicitário. São (ou foram) de empresas nas Bahamas que têm ou tiveram as seguintes pessoas como beneficiárias:

sua filha Eduarda Mendonça; alguém identificado como sendo ‘sua mulher’; e sua sócia Zilmar Fernandes Silveira.”
Veja também publica entrevista com o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Ele afirma ao repórter Alexandre Oltramari que a comissão de inquérito vai investigar se o dinheiro movimentado por Duda Mendonça tem ligação com o financiamento de campanhas políticas do PT:
- Marcos Valério, que sempre foi apontado como o grande responsável pela operação do caixa 2 do PT, agora parece apenas um apêndice do esquema que tinha Duda Mendonça como personagem central.
- Duda Mendonça era frequentador assíduo do Palácio do Planalto. Dá para acreditar que o presidente também não sabia de nada a respeito das maracutaias do publicitário?
- Que o presidente Lula tinha ciência, ele tinha. Só não posso dizer quanto ele sabia. O suposto empréstimo ao PT, por exemplo, está hoje em R$ 100 milhões. À Coteminas, empresa do vice José Alencar, o PT deve R$ 11 milhões. Duda Mendonça disse que fez as campanhas do partido do presidente por R$ 25 milhões mas recebeu apenas R$ 10,5 milhões.
Duda, portanto, ainda tem R$ 14,5 milhões para receber. O PT ia construir uma sede em São Paulo com R$ 15 milhões. É difícil acreditar que Lula não viu um caixa paralelo de mais de R$ 140 milhões.
- O presidente disse na televisão que não acredita na existência do mensalão.

- O presidente está errado ao dizer que não existem provas do mensalão. É um absurdo.

Eu sou advogado. O tesoureiro do PT confessa ter distribuído dinheiro a deputados, líderes e presidentes de partidos da base aliada. Há extratos bancários demonstrando isso. Há a confissão e a renúncia de líderes e presidentes de partidos. Há coincidências de repasse de dinheiro com a mudança de parlamentares de partido e com votações de interesse do governo.
Só o PL, que deu o vice a Lula, recebeu 24 transferências em menos de seis meses de 2003. São pagamentos semanais, contínuos, em valores muito semelhantes. Como é que não existem provas do mensalão?
Para Osmar Serraglio, Lula pode ser responsabilizado por negligência:

- O presidente não conseguiu reconhecer indícios de corrupção no partido dele. Não conseguiu perceber como seu partido foi eleito com uma minoria e formou uma maioria.

Ele foi negligente no governo. Escolheu José Dirceu como seu braço-direito. Ele tinha de ter sido mais vigilante, tinha de ter se dado conta das coisas que estavam acontecendo. É responsabilidade dele.
Negligência é motivo para impeachment. Diz Osmar Serraglio:
- Alguém pode ser cassado sem sequer saber o que aconteceu, apenas porque o que aconteceu estava sob seu comando. Ele pode ser cassado porque nomeou, porque é o comandante.
No julgamento político não é necessária a comprovação da culpa, mas apenas o convencimento da culpa pelos pares que vão participar do julgamento.
Dia 258
26/1/2006 Em depoimento à CPI dos Bingos, o ministro Antonio Palocci (PT-SP) nega irregularidades em serviços de varrição de rua em Ribeirão Preto (SP). Nega a existência de contratos ilegais na época em que foi prefeito da cidade. Nega ter havido caixa 2 nas eleições de 2002, quando coordenou a campanha de Lula. Nega a doação de dólares de Cuba para ajudar a eleição do presidente do PT. Nega o recebimento de dinheiro de casas de bingo para a campanha eleitoral. Como ministro da Fazenda de Lula, nega irregularidades no contrato entre a Caixa Econômica Federal e a multinacional Gtech.
Com fala mansa e pausada, jeito tranquilo, Antonio Palocci, de forma serena, diz ser “fantasiosa” as informações de seu ex-secretário de Governo em Ribeirão Preto, Rogério Buratti, que admitiu ter ouvido menções à operação Cuba. O ministro da Fazenda também é questionado sobre a propina de R$ 50 mil que, segundo o mesmo Rogério Buratti, era repassada a ele, Palocci, mensalmente, na Prefeitura de Ribeirão Preto. Diz o ministro:
- Não é verdade.
- Então ele é mentiroso?
- Não quero me pronunciar dessa forma.
Lula comenta o depoimento:
- O Palocci é um monumento de sinceridade, é um monumento de inteligência. Eu acho que, quem assistiu, saiu convencido de que o espetáculo que a CPI queria dar não aconteceu, porque o Palocci foi muito sincero, muito honesto e muito digno.

O Conselho de Ética da Câmara aprova pareceres recomendando a cassação dos mandatos dos deputados Professor Luizinho (PT-SP) e Roberto Brant (PFL-MG). A votação de Roberto Brant termina empatada em 7 votos a 7, e é desempatada pelo deputado Ricardo Izar (PTB-SP), presidente do Conselho de Ética. Roberto Brant recebeu R$ 102 mil do valerioduto, mas alegou que era doação da Usiminas para a sua campanha a prefeito de Belo Horizonte.
Já a cassação de Luizinho é aprovada no Conselho de Ética por 9 votos a 5. O petista apareceu na lista de Marcos Valério como beneficiário de R$ 20 mil. O dinheiro foi sacado no Banco Rural pelo assessor José Nilson dos Santos. Luizinho foi acusado de ter intermediado a conversa entre o assessor e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares. O deputado garantiu desconhecer a origem dos recursos, e disse que não ficou com o dinheiro. Não convenceu.

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