domingo, 4 de julho de 2010

Autor do Livro: Jornalista Ivo Patarra
CAPÍTULO 6 CONTINUAÇÃO (PARTE 23)


cambista Nelma Cunha ter de acionar Toninho da Barcelona por não dispor das quantias solicitadas. Sobre a corretora Bônus-Banval, de São Paulo:
“Um dos esquemas mais complexos – mas igualmente clássico – do PT funcionava  na corretora Bônus-Banval. Toninho da Barcelona conta que a corretora era usada pelo partido para intermediar operações fraudulentas e, assim, tornou-se uma das principais  fontes de pagamento do mensalão. Sua especialidade eram as operações de ‘esquentaesfria’, nas quais os prejuízos eram sempre dos fundos de pensão das estatais. ‘As ligações entre o PT e a Bônus são estreitas. Os sócios são amigos íntimos de José Dirceu’, acusa o doleiro.”
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22/8/2005 Cai Marcos Antonio Carvalho Gomes, presidente do fundo de pensão Fundação Real Grandeza, dos funcionários de Furnas Centrais Elétricas e da Eletronuclear. Filiado ao PT, ele teria investido irregularmente R$ 151 milhões em certificados de depósitos bancários do Banco Santos. Do total aplicado, R$ 131 milhões não foram mais recuperados.
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23/8/2005 Em depoimento à CPI do Mensalão, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), presidente do PL, dá explicações. Recebeu R$ 6,5 milhões em recursos do caixa 2 do PT, entre janeiro de 2003 e setembro de 2004. Pagou despesas com material de campanha do presidente Lula, no segundo turno das eleições de 2002. O jogo de Valdemar Costa Neto:
- A situação em São Paulo era difícil. Lula tinha vencido José Serra no primeiro turno por apenas 100 mil votos. Tínhamos que entrar com força. Encomendei o material e o dinheiro foi gasto para pagar os fornecedores.
Valdemar Costa Neto foi autorizado a fazer os gastos pelo tesoureiro Delúbio Soares, “porque ele estava cheio de dívidas e não podia mais procurar os fornecedores”. Mas Valdemar não tem como comprovar os dispêndios:

- Só tenho recibos de R$ 1,7 milhão. Os outros R$ 4,8 milhões foram entregues sem  comprovação. Estou tentando pegar alguns recibos no PT.
Ivan Guimarães, ex-presidente do Banco Popular, depõe na CPI dos Correios. Braço do Banco do Brasil, o Banco Popular foi criado em 2003 para fomentar a concessão de microcréditos. Em 2004, Ivan Guimarães alugou apartamento de Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério. Imóvel vendido por Ângela Saragoça, ex-mulher de José Dirceu (PT-SP).
No primeiro ano de funcionamento, o Banco Popular gastou R$ 29,7 milhões com propaganda, mais que os R$ 21,3 milhões liberados para a concessão de microcréditos. Diz Ivan Guimarães:
- Os gastos de marketing são mais elevados no primeiro ano, porque é preciso construir a imagem da instituição.
Em seu depoimento, ele atribui toda a responsabilidade pelas despesas e decisões sobre gastos de propaganda à diretoria de Marketing do Banco do Brasil, chefiada por Henrique Pizzolato.
- Remetíamos os recursos ao Banco do Brasil e eles efetuavam os dispêndios. Não tínhamos ntato com agências de publicidade.
O Banco Popular contratou, sem licitação, a Lumens Serviço de Informação. Por R$ 35 mil por mês, a empresa de consultoria faria o “desenvolvimento de suporte à estrutura e gestão de serviços”. A Lumens é de Bonerges Ramos Freire. Ele é casado com Patrícia Valente, irmã de Mônica Valente, mulher de Delúbio Soares. O negócio foi encerrado em abril de 2005.
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24/8/2005 Depois de quase dois meses, o ex-líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Rocha (PA), admite publicamente que a assessora Anita Leocádia Pereira Costa sacou R$ 620 mil do valerioduto. O dinheiro, explica o deputado, foi usado para pagar dívidas da campanha eleitoral no Pará, apesar de nada ter sido informado ao Tribunal Regional Eleitoral.
Em relação aos outros R$ 300 mil atribuídos a Paulo Rocha na lista de Marcos Valério, o parlamentar informa que foram entregues ao PSB paraense.
Paulo Rocha, presidente do diretório do PT no Pará, considera o ato da assessora “irregular, mas não estranho”. Afinal, justifica o deputado, Ana Leocádia Pereira Costa fez as retiradas “na condição de militante” do PT. Paulo Rocha não vê motivos para ser cassado:
- Não cometi nenhum crime. Não matei, não roubei. Cumpri meu dever de presidente regional do PT.
Em Passo Fundo (RS), o escritor Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, amigo histórico de Lula, afirma que um pequeno grupo de dirigentes do PT “atola pé e alma na corrupção”, e compromete todo um projeto. Frei Betto, nomeado para trabalhar no Palácio do Planalto como assessor especial de Lula, pediu para deixar o cargo depois de um ano. Ele concede entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo:

- Nem sob os anos da ditadura a direita conseguiu desmoralizar a esquerda como esse núcleo petista fez em tão pouco tempo. Na ditadura, apesar de todo sofrimento, perseguições, prisões e assassinatos, nós saímos de cabeça erguida e certos de que tínhamos contribuído para a redemocratização do País. Agora, não. Esses dirigentes desmoralizaram o partido e respingaram lama por toda a esquerda brasileira.

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26/8/2005 O Ministério Público do Rio de Janeiro conclui inquérito que investigou gravação clandestina de conversa entre o empresário de jogos Carlos Augusto de Almeida Ramos, o “Carlinhos Cachoeira”, e o então presidente da Loterj, a estatal fluminense de loterias, Waldomiro Diniz. A divulgação da fita, em fevereiro de 2004, provocou um escândalo.
Em consequência, Waldomiro Diniz pediu demissão do Ministério da Casa Civil, onde era importante assessor de José Dirceu (PT-SP). Note-se: ele não foi demitido. Na gravação, Waldomiro Diniz e Carlinhos Cachoeira aparecem negociando contratos e propina, durante reunião realizada em 2002.
A Polícia Federal fez perícia na fita e não detectou montagem ou edição fraudulenta. O diálogo trata da doação de dinheiro do empresário a campanhas eleitorais, em troca de vantagens em contratos da Loterj. Waldomiro Diniz pede comissão de 1% sobre os negócios aprovados. O Ministério Público requer que a Justiça obrigue o ressarcimento aos cofres públicos, aplique multa e o puna com a perda dos direitos políticos. Note-se bem: Waldomiro Diniz não foi demitido do governo Lula. Pediu para sair.
Extrato bancário do PT na CPI dos Correios. É do período de 15 de dezembro de 2003 a 31 de maio de 2004. Mostra 23 depósitos ao partido, num total de R$ 3,2 milhões. Os depósitos têm valores redondos, e variam de R$ 20 mil a R$ 300 mil, como se fossem mensalinhos, mensalões e supermensalões. Era a época de glória da relação PT/Marcos Valério, com saques e pagamentos sem fim. Além dos valores redondos, chama a atenção que apenas dois dos 23 depósitos têm identificação. Um dos depositantes, Carlos Alberto Timóteo, é funcionário do PT. Mas não confirma a operação.
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27/8/2005 A revista Época traz a reportagem “Lavanderia mensalão”. Denuncia operações suspeitas de mais de R$ 100 milhões, com recursos dos fundos de pensão. De acordo com a revista, o dinheiro dos fundos foi parar nas mãos de operadores do mensalão e, em parte, acabou desviado e levado ao exterior, principalmente para paraísos fiscais do Caribe. O texto é assinado pelos repórteres Ricardo Grinbaum, Leandro Loyola e David Friedlander:

“O esquema foi executado em 2003 e 2004 e envolve pelo menos cinco fundos de pensão de empresas estatais. Os fundos, que são os investidores mais ricos do País, teriam perdido dinheiro - fraudando os associados de propósito.”

A suspeita é de que dirigentes dos fundos, donos de cargos políticos, aplicavam os recursos, de forma intencional, em investimentos sabidamente perdedores. O prejuízo ficava com os trabalhadores que, supostamente, deveriam ter as suas poupanças administradas com eficiência, para não lhes faltarem recursos na hora de receber as pensões, no futuro. A maracutaia é justamente o rateio do dinheiro perdido, entre especuladores e políticos:
“A simulação da aposta no mercado financeiro servia para justificar a saída do dinheiro dos fundos. No mercado financeiro esse tipo de golpe é muito popular, até pela dificuldade em incriminar os responsáveis. Como as operações na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) são muito complicadas e todo dia há gente ganhando e perdendo milhões, quando alguém é apanhado em delito financeiro costuma se defender dizendo que errou na hora de aplicar e que isso faz parte do jogo.”

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28/8/2005 O jornal O Globo, do Rio, traz reportagem mostrando o resultado de trabalhos de uditoria realizados em contratos firmados pelos Correios no valor de R$ 7 bilhões, em 2003 e 2004. O assunto é grave. Foram constatados 525 tipos de irregularidades, a maior parte considerada de “alto risco” para os cofres públicos. O repórter José Casado mergulhou  num mundo de licitações dirigidas, orçamentos irreais, pagamentos sem cobertura contratual, reajustes indevidos e pregões eletrônicos distorcidos.
A força tarefa que examinou os contratos de 40 departamentos da estatal foi formada por técnicos do TCU (Tribunal de Contas da União) e da CGU (Controladoria-Geral da União).
A maior distorção ocorreu no chamado “correio híbrido postal”, sistema de correspondência eletrônica para grandes clientes. O projeto estava pronto em 2002, por R$ 861 milhões.

A licitação foi suspensa. Reapareceu em 2004, com orçamento de R$ 4,4 bilhões. “Variação injustificada”. Exigência de “capacidade tecnológica de impressão de 100 milhões de páginas por mês” direcionaria o certame à American Bank Note.

Os auditores descobriram gastos fraudulentos de R$ 1,2 bilhão para comprar equipamentos, num projeto feito sem estudo de viabilidade, sem comprovação de gastos e sem informações adequadas sobre custos. Os resultados foram máquinas ociosas e softwares desperdiçados. O projeto foi definido como exemplo de “ineficiência e antieconomicidade”.

A inspeção detectou vários rombos, como gastos de R$ 100 milhões em produtos dispensáveis.

Houve despesas irregulares da ordem de R$ 175 milhões, no projeto “rede corporativa”. Outros R$ 90 milhões, aplicados em “estudos de viabilidade”, foram considerados “ineficientes e desatualizados”.

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29/8/2005 A semana começa quente no Congresso Nacional. Pronto o parecer que recomenda a cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor das denúncias do escândalo do mensalão. Para o relator, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), Jefferson comportou-se de forma ncompatível com a ética e o decoro parlamentar. Jairo Carneiro acusa-o por receber dinheiro de caixa 2 na campanha de 2004 e por tráfico de influência em empresas estatais.
O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), não aceita a tese de ue houve pagamentos de mensalões. Fazendo coro ao discurso governista, fala em dinheiro repassado com a finalidade de quitar dívidas eleitorais, algo “menos grave”. Severino Cavalcanti sugere apenas censura ou repreensão para os envolvidos, não a perda de mandatos.

O senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI dos Correios, admite ter havido distribuição de “recursos” a deputados, mas não aconteceu, necessariamente, em cotas mensais:
- Dependeu de migração partidária, das grandes votações.
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) não usa meias palavras:
- Qual a diferença entre um deputado que recebeu recursos mensalmente e outro que recebeu para pagar despesa de campanha? Nenhuma. Ambos ficam comprometidos com o governo.
Fernando Gabeira (PV-RJ) critica a tese de que não-registro de dinheiro de campanha é crime menor:

- Não é só caixa 2. E tampouco importa se houve mensalão ou semestrão. Houve suborno.

De Ricardo Izar (PTB-SP), presidente da Comissão de Ética da Câmara:

- Existem provas cabais, e não meros indícios, de que houve pagamentos e retiradas irregulares de dinheiro, por parte de alguns parlamentares, oriundos das empresas do senhor Marcos Valério, via Banco Rural e outros meios. Algumas retiradas foram, inclusive, cíclicas, o que é um indício de um esquema de pagamento mensal e sistemático de deputados.

O deputado André Costa (PT-RJ) anuncia o seu desligamento do PT. Em nota, acusa a decadência moral e ética: 
- O aparelhamento do partido, sob o rígido controle de uma oligarquia, tem produzido uma inaceitável corrupção de valores e práticas.

Também se desliga do PT o senador Cristovam Buarque (DF).
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30/8/2005 Em depoimento à CPI do Mensalão, o operador de mercado José Carlos Batista, dono da empresa Guaranhuns. Diz ter sido contratado por Valério em novembro de 2002.
Deveria intermediar entregas de dinheiro à coligação PT-PL. Ao PL, repassou R$ 4,5 milhões.
Já foram identificados 63 depósitos da SMPB à Guaranhuns, no valor de R$ 6 milhões.
Relata Batista:
- A partir de 2002, quase toda a semana eu levava em espécie dinheiro para os representantes da coligação com o PL.

O empresário conta mais uma história. Foi chamado por Valério para intermediar a aquisição de R$ 10 milhões em certificados de reflorestamento. A compra de títulos iria lavar dinheiro para pagar dívidas do PT e do PL. A Guaranhuns e a Bônus-Banval trabalharam juntas.

Teriam sido criadas para atuar no financiamento de partidos políticos. No meio do depoimento, Batista resolve recuar. Desdiz o que afirmara, porque entende que iria se complicar.

- Se algum erro cometi, foi o de acreditar na hipnose coletiva que colocava o PT como partido da honestidade, da ética e da transparência.

Para o deputado José Rocha (PFL-BA), José Carlos Batista é um “laranja”:
- Tudo indica que a Guaranhuns é uma empresa de fachada, usada para dificultar o rastreamento do dinheiro que saía das empresas do senhor Valério.

Em desabafo ao repórter Expedito Filho, de O Estado de S. Paulo, Valério:

- Minha vida virou um molambo. Eu virei um molambo. Fui usado e abandonado pelo PT, um partido de pessoas sem coração. Somente eu e Delúbio somos responsabilizados por tudo. Cadê José Dirceu? José Genoino? Silvinho Pereira? Antonio Palocci? Todos sumiram e só se fala em Marcos Valério como o responsável por tudo. Estão preparando uma pizza.

Marcos Valério se diz amigo de Delúbio Soares. Para ele, o ex-tesoureiro “não fez nada sem a ordem e orientação do ex-ministro José Dirceu”:

- Delúbio não conta tudo o que sabe porque é um idiota. Ele tem uma fidelidade canina e é o único por quem eu tenho amizade. Mas eu tenho raiva do PT e gostar do Delúbio e odiar o PT pode parecer um paradoxo. Mas o Delúbio foi afastado, expulso e, como eu, abandonado.

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31/8/2005 Entrevista de Soraya Garcia, assessora financeira do PT na campanha de reeleição do prefeito de Londrina (PR), Nedson Micheletti (PT), em 2004. Ela fala ao repórter José Maschio, da Folha de S.Paulo. Acusa o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (PTSP), de carregar dinheiro vivo para Londrina, onde circulou num automóvel blindado da marca BMW:

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