sexta-feira, 23 de julho de 2010

Autor do Livro: Jornalista Ivo Patarra
CAPÍTULO 6 CONTINUAÇÃO (Parte 42 de 51)


- Bertholdo chegou a dizer se pagou R$ 5 milhões ao Ratinho?
- Nesse caso, ele nunca falou em pagamento. Só falou que tinha ido ao Ratinho, aproveitando a amizade que o Ratinho tem com o Borba, porque queria trabalhar isso para o PT.

- O dinheiro que Bertholdo manipulava vinha todo dos contatos dele com a cúpula do PT em São Paulo?
- Não, Bertholdo me falou várias vezes que também tinha dinheiro que vinha de Itaipu.
O dinheiro para as campanhas no Paraná ele me falava que vinha de empreiteiros com contratos com Itaipu. Depois que ele assumiu o cargo de conselheiro de Itaipu, em 2003, várias vezes narrou para mim e para o seu então sócio, o Sérgio Costa, como ele tentava influenciar e cobrar dívidas antigas para credores de Itaipu.

- Como era?

- Ele dizia que o Samek era ligação forte dele. Mas que o Samek tentava fazer negócios sozinho ou com o Paulo Bernardo e que às vezes deixava ele fora da coisa. Mas que andava se enfronhando no esquema, estreitando relacionamento com o Samek. Tempos depois, o Samek passou a viajar com o Bertholdo nos jatos que ele locava para se deslocar de Foz do Iguaçu a Curitiba e Brasília.
- O senhor viu os dois juntos?
- Nunca, mas era isso o que Bertholdo propagava. Ele também tinha um relacionamento muito estreito com o José Dirceu. Eu mesmo ouvi duas conversas do Bertholdo com o José Dirceu. Uma delas ocorreu num aparelho de rádio Nextel. O relacionamento dele com José Dirceu era tão próximo que, uns 20 dias depois que o Waldomiro Diniz deixou o governo, o Bertholdo me disse que tinha sido convidado para assumir o lugar do Waldomiro Diniz... Eu ainda falei: “Vai sair um cara para entrar outro e ser queimado e jogado aos leões”. Uma semana depois, ele voltou de Brasília e disse: “Vou operar isso por fora. Tenho muito mais liberdade assim”. Ele efetivamente tinha um relacionamento estreito com a cúpula do PT e com a base do governo. Ele me disse que até operava contas do PT no exterior.
- Onde?
- Ele me disse que operava contas do PT, com doleiros, em Luxemburgo. Em 2003 e 2004, por exemplo, ele foi duas ou três vezes a Luxemburgo. O passaporte dele foi aprendido pela Polícia Federal. O registro deve estar lá. Ele me disse que um dos doleiros do PT era o Toninho Barcelona. Ele me falou isso numa conversa por telefone, no ano passado. Tenho certeza de que está gravado e está com a Polícia Federal.
Tony Garcia também concede entrevista à Folha de S.Paulo. Ele envolve o deputado José Mentor (PT-SP) no esquema PT/PMDB/Itaipu Binacional. Afirma que o advogado Roberto Bertholdo costumava comentar a influência que detinha sobre a CPI do Banestado, decorrente da relação com o relator da comissão, o petista José Mentor. De acordo com Tony Garcia, Bertholdo ajudou José Mentor e o tesoureiro Delúbio Soares a operar um esquema em Luxemburgo, do qual participou também o doleiro “Toninho Barcelona”.
Bertholdo teria prestado “assessoria” à CPI do Banestado. Incluiria pessoas para serem ouvidas, como o dono de casa de bingo Luiz Antonio Scarpin, de Curitiba. O objetivo era fazer chantagem. Diz Tony Garcia:
- O Bertholdo conseguiu que o Mentor convocasse o Scarpin para depor em Brasília.
Depois, exigiu dele R$ 300 mil para aliviar sua barra na comissão. Acontece que o Scarpin gravou as chantagens do Bertholdo e tiveram que fazer um acordo. No acordo, o Scarpin escapou da convocação. Mas a força-tarefa do Banestado tem fita mostrando que o Mentor recebeu para retirar o nome do Scarpin.

Outra afirmação Bertholdo, segundo Tony Garcia ao repórter José Maschio:

- Ele me dizia, e está gravado pela Polícia Federal, que Itaipu era o braço do governo para arrecadação. Ele disse que estava operando com a Itaipu para levar recursos, em dinheiro vivo, para as campanhas petistas de Maringá, Londrina, Ponta Grossa e Cruzeiro do Oeste, onde o candidato vitorioso foi “Zeca Dirceu”, filho do então chefe da Casa Civil, José Dirceu.
Tony Garcia cita o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (PT-PR), e o presidente da Itaipu Binacional, Jorge Samek:
- A bronca do Bertholdo era que ele não participava do esquema de captação junto aos empreiteiros, e se queixava de que o Paulo Bernardo e o Jorge Samek controlavam isso. Ele disse que queria entrar no esquema porque precisava de dinheiro para seu esquema no PMDB.
Disse que iria falar com o Samek em uma viagem ao Rio de Janeiro para resolver o caso.
Em outra reportagem, Veja descreve um achaque da empresária Jeany Mary Corner, a agenciadora de garotas de programa em Brasília. Os repórteres Fábio Portela e Juliana Linhares contam que Jeany Mary Corner e suas “recepcionistas” teriam testemunhado e colaborado em atos de corrupção. Em vez de denunciá-los, ela resolveu cobrar pelo silêncio.
Emissários ligados a ela procuraram Ademirson Ariosvaldo da Silva, secretário particular do ministro Antonio Palocci (PT-SP), o ex-chefe de gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, e outro integrante da “república de Ribeirão Preto”, Rogério Buratti. Pressionaram.
Jeany Mary Corner iria conceder entrevistas bombásticas e seria melhor tirá-la de circulação   até  2008.
São os seguintes os fatos que, segundo a revista, viriam a público nas entrevistas de Jeany Mary Corner: além de fornecer garotas de programa para festas na “casa dos prazeres”, alugada no Lago Sul, ela pagou mensalões de R$ 50 mil a oito deputados, por solicitação de Rogério Buratti.
Jeany Mary Corner teria apresentado os doleiros Fayed Antoine Traboulsi e Chico Gordo a Rogério Buratti, e permitido que a casa dela fosse usada para divisões de dinheiro.
As “meninas” participaram da repartição, seguindo instruções de Rogério Buratti deixadas por escrito. Depois de contado, o dinheiro era posto dentro de revistas colocadas em envelopes de papel.
Algumas garotas de Jeany Mary Corner rodaram Brasília para entregar os envelopes recheados de dinheiro. Quem guiava o carro era Francisco Chagas da Costa, motorista de Buratti. Em 2003 houve cinco operações sdo gênero. Jeany Mary Corner teria recebido R$ 50 mil para ficar quieta, dinheiro entregue por Feres Sabino, ex-secretário de Negócios Jurídicos da Prefeitura de Ribeirão Preto (SP). Em entrevista ao jornal OGlobo, ela declarou:
- Fiquei no anonimato esse tempo todo. Fui muito digna. Diferentemente de outros que abriram a boca. Por isso, pedi ajuda. Isso é chantagem?
Dia 303
12/3/2006 Alguns dos principais expoentes do escândalo do mensalão continuam a controlar cargos federais dos mais cobiçados, mesmo após terem sido acusados de envolvimento no esquema de corrupção. Reportagem de Diego Escosteguy, do jornal O Estado de S. Paulo, mostra que, com o aval do presidente Lula, os ex-deputados José Dirceu (PT-SP) e Valdemar Costa Neto (PL-SP) e o deputado José Janene (PP-PR) mantêm nomeações estratégicas para alguns dos 20 postos mais importantes do Governo Federal.

Conforme o levantamento, Dirceu é responsável por indicações para os cargos de diretor de Finanças de Itaipu, presidente da BR Distribuidora, diretor de Exploração e Petróleo e diretor de Serviços da Petrobras. Além disso, divide com o senador Carlos Wilson (PT-PE) a vaga de diretor de Engenharia da Infraero e, com José Janene, o cargo de diretor de Abastecimento da Petrobras. José Janene também seria autor da indicação do presidente do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
Valdemar Costa Neto, por sua vez, nomeou o diretor de Infraestrutura e o presidente do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). O PT indicou cinco dos 20 cargos mais importantes: diretor de Finanças da Petrobras, diretor de Mercado Consumidor da BR Distribuidora, diretora do Fundo da Marinha Mercante e, finalmente, os diretores Comercial e de Tecnologia da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos).
Fazem parte da lista, ainda, as indicações do ministro Antonio Palocci (PT-SP) para a presidência do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), do senador Delcídio Amaral (PT-MS) para a Diretoria Internacional da Petrobras, do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência da Transpetro e do PMDB para as superintendências da Receita Federal do porto de Santos (SP) e do aeroporto de Guarulhos (SP).
Os 20 cargos são visados pelo volume de recursos dos contratos gerenciados. A Petrobras, por exemplo, faz investimentos de R$ 23 bilhões por ano. É curioso o caso do ex-deputado Valdemar Costa Neto, que renunciou para evitar a possível cassação do mandato. Ele aumentou seu poder junto a Lula durante a crise política. Em troca da mobilização que fez para eleger Aldo Rebelo (PC do B-SP) à presidência da Câmara dos Deputados e de outros serviços que prestou ao presidente, passou a controlar todo o Dnit.

Dia 305
14/3/2006 Uma história que mistura pacotes de dinheiro e prostitutas. Francenildo Santos Costa, o caseiro da “casa dos prazeres”, a mansão alugada em Brasília por próceres da chamada “república de Ribeirão Preto”, concede entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Ele complica a situação do ministro Antonio Palocci (PT-SP). Na “casa dos prazeres” houve festas animadas por garotas de programa, “meninas” agenciadas por Jeany Mary Corner. A mansão de 700 metros no Lago Sul, com quatro suítes, salão de jogos, churrasqueira, piscina, quadra de tênis e sistema de segurança com câmeras de vídeo e sensores de luz, teve uso intenso durante oito meses. Só foi devolvida depois que o escândalo Waldomiro Diniz ganhou as páginas dos jornais, no início de 2004. A entrevista do caseiro Francenildo à repórter Rosa Costa:
- O que chamou mais a sua atenção nos meses em que conviveu com os inquilinos de Ribeirão Preto?
- A forma de pagamento. Era muito bom.
- O pagamento era em cheque?

- Nunca saiu cheque, não. Só em dinheiro.

- Quem morava na casa?

- Ninguém morava lá. Passavam só a noite.

- Quem eram as pessoas?

- Vladimir Poleto, doutor Ralf Barquete, doutor Rui, Ademirson e o chefe.
- Quem é o chefe?
- A gente não chamava de Palocci lá na frente deles. Eles achavam ruim. Tinha que chamar de chefe.
- E eles chamavam Palocci de chefe ou só os empregados?

- Não, era todo mundo: “Olha, o chefe vem hoje. Vamos sair fora e deixar a casa para o chefe”. Isso quando ele ia durante a semana, porque geralmente ele ia no sábado e no domingo.
- O senhor conheceu o ministro pessoalmente?
- Eu via de longe, porque a casa tem sensor de luz que se acendia quando ele aparecia.

Via a cara dele de terno e tudo. Num sábado à tarde, cheguei a ver ele com o doutor Rogério e doutor Rui Barquete.

- Onde havia sensores de luz?

- Dentro da casa, para clarear o terreno. Ele pediu para desligar os sensores em volta da casa, mas não teve como desligar. Era para ninguém vê-lo. No jardim tem luzes. Ele falava que não era para ligar a luz do jardim, que queria a casa escura do lado de fora.

- Ele chegava sozinho?

- Chegava sozinho, vinha num Peugeot prata, de vidro escuro, dirigindo sozinho.

- De quem era o carro?

- Era de uso do doutor Ralf.

- O senhor morava na casa?

- Sim. A casa fica do lado da garagem. Quem está lá dentro dá pra ver quem está lá fora.

- O senhor via o ministro chegando?

- É, a gente via.

- Mas ele disse que nunca foi à casa.

- Do lado dele, eu não sou nada, mas ele está mentindo.

- Quantas vezes ele foi à casa?

- Se for contar, que eu me lembre, umas dez ou 20 vezes. Não foram três como Francisco falou.
- Ele jogava tênis?
- Teve um sábado em que estava jogando tênis com o doutor Rogério e Rui, à tarde.

- Buratti frequentava a casa?

- Umas três vezes o chefe foi para conversar com o doutor Rogério, lá numa sala que tinha televisão. Eles sempre ficavam lá. O doutor Rogério ficava lá com a mulher dele, Carla. Quando iam para São Paulo, Carla vinha no final de semana.
- O senhor via dinheiro na casa?
- Via, via notas, pacotes de R$ 100 e R$ 50 na mala de Vladimir. Ele trazia muito dinheiro.
Eu sabia que tinha muito dinheiro porque ele saía do quarto e fechava a porta do quarto.

- Quem pagava as contas?

- Era Vladimir. Vinha uma verba lá de São Paulo.

- De onde vinha o dinheiro?

- Vinha da empresa do doutor Rogério. Era ele quem pagava as despesas, os empregados.

Ele passava o dinheiro para Vladimir.

- O senhor participou alguma vez da entrega de dinheiro?

- Um dia o Francisco me chamou para ir ao Ministério. Disse: “Vamos ali mais eu, que você está à toa mesmo”. Chegamos lá, Francisco parou o carro no estacionamento, ligou para o doutor Ademirson. Esperamos uns 20, 30 minutos. Aí ele desceu e Francisco entregou o envelope. Eu vi Francisco pegando o dinheiro. Dava para ver que era muito dinheiro, não era pouco. Acho que R$ 5 mil, R$ 6 mil, R$ 7 mil.
- O pagamento dos empregados da casa também era feito com dinheiro enviado por Buratti?
- Era. Ele passava o dinheiro ao Vladimir, que pagava a gente.

- O dinheiro vinha de São Paulo?

- O dinheiro vinha lá da empresa de São Paulo, eles chamavam de verba.

- Como era o pagamento de vocês?

- Eles pagavam no dia 1º. Falavam que era até dia 5, mas pagavam antes. Davam R$ 750, R$ 770, mais um pouquinho. Vladimir era ótimo patrão.

- Onde ele pegava o dinheiro?

- Tinha vez que ele vinha com o dinheiro na mala, vinha do aeroporto, vinha de fora.

Sempre pagavam na terça ou na quinta-feira.

- O senhor levou dinheiro outras vezes para Ademirson?

- Francisco deve ter levado muitas vezes. Pelo que eu conversei com ele, ele levou dinheiro para cada um deles. Levava para os apartamentos, para um e outro, doutor Rogério, doutor Ralf. Se precisava de dinheiro trocado, aí Vladimir fazia um pacote numa mesa que tinha lá, separava e mandava Francisco distribuir. Francisco me falou isso.

- O dinheiro que o motorista Francisco levava era para Ademirson ou para o chefe?
- Não posso informar, não. Não sei o que eles faziam com esse dinheiro, não.
- Alguma vez alguém falou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva?

- Ele era bem falado lá, mas quando falavam no nome de Lula iam lá para dentro. Falava nos eventos, nas viagens que ele ia fazer.

- A casa era mobiliada?

- Não, Vladimir comprou tudinho. As camas vieram assim que ele fez o contrato. As camas novas, tudo camona boa, bonita.

- Eles guardavam roupa dentro daquela casa?

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