sexta-feira, 9 de julho de 2010

Autor do Livro: Jornalista Ivo Patarra
CAPÍTULO 6 CONTINUAÇÃO (PARTE 28)


Silvinho admite o acordo PT-PTB nas eleições municipais de 2004, pelo qual o partido do presidente Lula ficou de repassar dinheiro de caixa 2 para o partido de Roberto Jefferson.
Ele diz que a origem do acordo foi o isolamento de Marta Suplicy (PT-SP), candidata à reeleição na Prefeitura de São Paulo:

- O custo político para trazer o PTB e o PL para a campanha da Marta foi alto. O partido cabeça de chapa tem que arcar com todos os custos.
Dia 143
3/10/2005 Em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), afirma que o dinheiro alimentador do caixa 2 do PT pode ter tido origem em recursos do próprio partido, mantidos no exterior. Para Delcídio Amaral, existem indícios de que os empréstimos de Marcos Valério eram fictícios:
- Você tem várias movimentações. Com o Valério pegando esses empréstimos entre aspas, porque a cada dia nós nos convencemos mais de que essas operações de empréstimo são de fachada.
A hipótese, portanto, é de que a história dos empréstimos pode ter sido falseada para justificar uma repatriação de dinheiro:
- Você poderia ter contas lá fora e os empréstimos seriam de fachada, empréstimos de você para você mesmo.
Uma das razões para os empréstimos terem sido apenas um meio de despistar a origem do dinheiro de caixa 2 é o fato de as operações de crédito não estarem registradas na contabilidade da SMPB, agência de publicidade usada para obter os empréstimos.
- Qualquer empresa minimamente séria contabiliza, principalmente operações desse montante.

É absolutamente claro que isso era para não se pagar.
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5/10/2005 A comissão de sindicância da Corregedoria da Câmara dos Deputados recomenda ao Conselho de Ética da Casa a abertura de processo de cassação contra 13 deputados acusados de envolvimento no escândalo do mensalão. São os seguintes: João Paulo Cunha (PT-SP), Professor Luizinho (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Paulo Rocha (PT-PA), João Magno (PTMG), Josias Gomes (PT-BA), José Janene (PP-PR), Pedro Corrêa (PP-PE), Vadão Gomes (PP-SP), Pedro Henry (PP-MT), Wanderval Santos (PL-SP), José Borba (PMDB-PR) e Roberto Brant (PFL-MG). Além deles, os deputados José Dirceu (PT-SP), Romeu Queiroz (PTB-MG) e Sandro Mabel (PL-GO) sofrem processo de cassação no Conselho de Ética.
A CPI dos Bingos faz acareação entre o advogado Rogério Buratti, o ex-assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz, o empresário de jogos Carlinhos Cachoeira, o diretor da multinacional Gtech, Marcelo Rovai, e o ex-consultor jurídico da Gtech, Enrico Gianelli.

Em pauta, a renovação do contrato entre a Caixa Econômica Federal e a Getch, no valor de R$ 650 milhões, efetivado em abril de 2004. A Gtech acusa Rogério Buratti e Waldomiro Diniz de tentarem extorquir R$ 6 milhões da empresa, em troca da renovação. Buratti e Waldomiro, afinados, afirmam que a Gtech tentou suborná-los, oferecendo até R$ 16 milhões de propina pelo mesmo contrato.
A sessão é tumultuada e repleta de bate-bocas e xingamentos. Relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) analisou a execução do contrato entre a Caixa e a Gtech, pelo qual a multinacional explorou serviços de loteria, entre abril de 2003 e agosto de 2004. No período foram pagos R$ 408 milhões à Gtech. O relatório concluiu que, do total, R$ 120 milhões representaram gastos desnecessários, cujos dispêndios não teriam acontecido se a renegociação do contrato fosse feita com rigor.

Durante a sessão, Marcelo Rovai afirma que Waldomiro Diniz foi até a Gtech em 1º de abril de 2004, para dizer que o contrato só seria assinado com a contratação de um consultor.
Não mencionou o nome de ninguém. No dia seguinte apareceu o consultor Rogério Buratti, que pediu R$ 6 milhões.

Rogério Buratti, aos gritos, diz que a afirmação é mentirosa. E garante que Marcelo Rovai lhe ofereceu de R$ 500 mil a R$ 16 milhões, dependendo do que ficasse definido na renovação do contrato, e depois pagou R$ 5 milhões para a empresa MM Consultoria.

Reação de Marcelo Rovai:

- O senhor recusou R$ 16 milhões? O senhor é tolinho por acaso? O senhor, com a sua biografia, recusou? Quantos ônibus dava para comprar com esse dinheiro?

De acordo com informações da CPI, houve mesmo um pagamento à MM Consultoria, no valor de R$ 5 milhões. Pode ter havido também um rateio da bolada entre os grupos do Ministério da Casa Civil, representado por Waldomiro Diniz, e o do Ministério da Fazenda, cujo expoente era Rogério Buratti. De qualquer forma, os R$ 5 milhões teriam sido descontados e transportados da agência bancária em carro-forte.
Depoimento à CPI do Mensalão. É de José Luiz Alves, ex-chefe de gabinete do primeiro ministro dos Transportes de Lula, Anderson Adauto (PL-MG), eleito prefeito de Uberaba (MG) em 2004. José Luiz Alves admite ter recebido R$ 200 mil do esquema de Marcos Valério, no Banco Rural. Afirma que o dinheiro foi usado para pagar dívidas da campanha  de 2002, quando Anderson Adauto foi candidato a deputado federal. Informações de Valério dão conta de que José Luiz Alves sacou R$ 1 milhão de conta da agência SMPB. Anderson Adauto seria reeleito prefeito de Uberaba em 2008. Em novembro daquele ano, ele chegaria a ser afastado do cargo, em virtude do suposto envolvimento da administração municipal na chamada máfia dos parasitas, um esquema de corrupção em hospitais públicos. O juiz responsável  pelo caso decretaria o sequestro dos bens de Anderson Adauto.
146
6/10/2005 Em depoimento à CPI dos Bingos, Bruno Daniel, irmão do prefeito assassinado Celso Daniel (PT), confirma ter ouvido o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho (PT-SP), reconhecer ter levado dinheiro do esquema de corrupção de Santo André (SP) para o PT. Bruno Daniel conta que Gilberto Carvalho, então secretário de Governo de Santo André, pediu para conversar com a família em 26 de janeiro de 2002, após a missa de sétimo dia em memória de Celso Daniel:
- Eu e meu irmão ficamos surpresos com a detalhada revelação de Gilberto Carvalho, feita logo após a missa de sétimo dia de Celso Daniel. Ele foi claro: disse que os recursos arrecadados eram enviados ao PT para serem usados no financiamento de campanhas. Era ele quem entregava o dinheiro a José Dirceu. Ele disse que havia momentos de tensão porque carregava o dinheiro, sem segurança, em seu Corsa preto. Em uma só ocasião, entregou R$ 1,2 milhão ao deputado Dirceu.

Para o irmão de Celso Daniel, o prefeito foi morto porque não concordou com o destino que vinha sendo dado ao dinheiro desviado da Prefeitura de Santo André. Daniel queria que o dinheiro fosse apenas para o PT, mas estava enriquecendo empresários, políticos e pessoas ligadas à Prefeitura, como o ex-secretário e ex-vereador Klinger Luiz de Oliveira (PT), o empresário Ronan Maria Pinto e o ex-segurança de Celso Daniel, Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, acusado de ser o mandante da morte do prefeito. Diz Bruno Daniel:

- Há evidências de que havia na Prefeitura de Santo André um esquema de arrecadação para o PT. Suponho que Celso enveredou naquilo como um mal necessário para viabilizar as atividades do partido e lamentavelmente deu no que deu. O que possivelmente aconteceu é que parcelas desses recursos começaram a ser destinadas para outras finalidades, razão pela qual o Celso resolveu alterar a situação e esta pode ter sido a motivação do crime.
Bruno critica o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), para quem o assassinato foi um crime comum. Ele acha que o irmão foi torturado para contar se dispunha de provas do esquema de corrupção. Daniel pode ter sido torturado para fornecer números de senhas que dariam acesso ao dinheiro da propina, provavelmente guardado em contas bancárias no  exterior. Diz Bruno:

- O povo de nossa cidade não aceita as explicações dadas até o momento, porque são superficiais e contraditórias para um crime que desde o início se revelou complexo. Falamos com outros membros do PT esperando trazer elementos para elucidar o caso. E o que posso afirmar é que poucas pessoas dentro do partido contribuíram para isso.

Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, o deputado Romeu Queiroz (PTBMG) admite ter recebido R$ 350 mil de contas bancárias do empresário Marcos Valério. Ele afirma que o dinheiro, doação do PT, foi entregue à direção do PTB. Segundo Romeu Queiroz, dois assessores dele, orientados pelo então tesoureiro Delúbio Soares, sacaram a quantia:
- Não botei um centavo no bolso.
Presidente do PTB de Minas Gerais, Romeu Queiroz relata que um dos assessores, com receio de transportar as cédulas, “fez a besteira de depositar o dinheiro na minha conta”. O deputado não desconfiou da origem dos recursos:

- O PT era sério.
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7/10/2005 Algumas semanas depois de se dizer traído e pedir desculpas em pronunciamento de televisão pelos erros cometidos pelo PT, Lula reúne 67 dos 83 deputados do PT no Palácio do Planalto. Alguns acusados de envolvimento no escândalo do mensalão estão presentes. Lula lhes presta solidariedade:

- Vocês não são corruptos. Vocês cometeram erros, mas não de corrupção. Todos vocês são construtores do PT.

E, referindo-se diretamente aos parlamentares acusados:

- Vocês são companheiros que não têm nenhuma doença contagiosa, nada que impeça a  nossa convivência.
Lula mostra-se fortalecido depois da eleição do governista Aldo Rebelo (PC do B-SP)  para a presidência da Câmara dos Deputados. Ele substituiu Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou ao mandato em meio ao caso do mensalinho. Sobre a CPI dos Bingos que fará acareação entre os irmãos de Celso Daniel e seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, Lula diz:
- É a CPI do fim do mundo.
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9/10/2005 O jornal Folha de S.Paulo noticia o resultado de uma investigação da Procuradoria da República no Distrito Federal, sobre uso da máquina pública e tráfico de influência no Ministério da Casa Civil. Os trabalhos foram conduzidos pelo procurador Luciano Sampaio Rolim. Conclusões: Waldomiro Diniz, ex-sub-chefe de Assuntos Parlamentares e um dos principais auxiliares do ex-ministro José Dirceu (PT-SP), organizou reuniões e audiências para José Carlos Becker de Oliveira, o “Zeca Dirceu”, filho de José Dirceu, com pelo menos sete ministros de Estado.
Com o poder que lhe foi atribuído, Zeca Dirceu, um funcionário de terceiro escalão do Governo no Paraná, passou a circular em Brasília acompanhado de prefeitos paranaenses, que viajavam à capital federal para se aproveitar da influência do filho do ministro e obter projetos e recursos para suas cidades. Em 2004, Zeca Dirceu foi eleito prefeito de Cruzeiro do Oeste (PR) pelo PT. Graças ao     apoio do pai, teriam incluído pleitos de Zeca Dirceu em planilhas para execução orçamentária,         algumas vezes de forma cifrada com as iniciais “JCB”. Escrevem os repórteres Eduardo Scolese e Rubens Valente:
“Zeca passou a atuar como se fosse um deputado federal, o que lhe garantia publicidade, fotos em capas de jornais e prestígio no interior do Paraná.”
E mais:
“Na pressa em atender o filho do ministro, funcionários do extinto Ministério da Assistência Social montaram, de forma irregular, processos com datas retroativas, o que provocou o comprometimento de recursos relativos a projetos que nem sequer existiam no Ministério.”
Por determinação de Waldomiro Diniz, funcionários da Casa Civil trabalharam para acelerar repasses de interesse de Zeca Dirceu, apresentando-o como “filho do ministro José Dirceu”, e pedindo “atenção especial” para os projetos encaminhados. Zeca Dirceu só precisava telefonar para dizer em quais Ministérios gostaria de ser recebido e as datas das viagens a Brasília.
A investigação identificou um tratamento especial concedido pela então chefe de gabinete da ministra da Assistência Social, Benedita da Silva (PT-RJ), Cícera Bezerra de Morais. Os processos relacionados ao filho de José Dirceu eram privilegiados. Trecho do depoimento da funcionária  Maria de Fátima Gonçalves, chefe do protocolo do Ministério da Assistência Social:

“Em relação aos processos, Cícera chegou a passar pedaços de papel, sem qualquer timbre ou assinatura, indicando o nome do município e o assunto do convênio, para que a depoente desse origem a um processo, sem nenhuma documentação; que isso era feito para que existisse um número de processo que tornasse possível o empenho (reserva de recursos para pagamento); que tais processos eram empenhados e até mesmo publicados sem que tivessem nos autos ao menos uma folha; que, após a publicação, eram providenciados os documentos necessários à instrução do processo, documentos esses que nem sequer existiam no Ministério.”
Maria de Fátima Gonçalves narrou que exerceu o cargo de chefe do protocolo por nove anos, mas nunca viu alguém sem mandato com tanto poder sobre a liberação de verbas.
- Cheguei a pensar que se tratava do próprio ministro.
Procurado pela reportagem do jornal, José Dirceu não se manifestou.
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10/10/2005 Mais informações sobre o relacionamento entre a direção nacional do PT, o empresário Marcos Valério e os bancos Rural e BMG. O PT e Valério rolaram 30 vezes supostas operações de crédito feitas junto àquelas instituições financeiras. Ao longo de dois anos, os empréstimos não pagos alcançam R$ 100 milhões. Durante o período, foram efetuadas apenas quatro amortizações, num total de R$ 3,6 milhões. Equivalem a cerca de 5% da dívida original, apontada em R$ 63 milhões, em valores corrigidos.
De acordo com o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator de movimentação financeira da CPI dos Correios, os bancos Rural e BMG mantiveram a política de autorizar a liberação de recursos, mesmo sem a quitação de dívidas anteriores. O deputado aponta o ocorrido em 14 de julho de 2004. Em 24 horas, o BMG rolou supostos empréstimos não pagos pelo PT e por Valério, no valor de R$ 18,1 milhões, e concedeu um novo crédito para a agência SMPB, no valor de R$ 3,5 milhões. Este empréstimo tampouco foi pago. Alguns meses depois, acabou rolado como os outros. Diz Gustavo Fruet: 
- É estranho negociar sempre, sem nada receber. É o tipo de empréstimo contraído para não ser cobrado.
A quebra de sigilos telefônicos revela os caminhos do tráfico de influência nos subterrâneos de Brasília. A CPI dos Correios divulga dados de Silvio Pereira, o ex-secretário-geral do PT que nunca ocupou cargo no governo Lula. Ele fez 670 ligações para números telefônicos da Presidência da República. E conversou frequentemente com diretores de empresas estatais como Correios, IRB, Furnas, Infraero e Eletronorte, além de falar com Marcos Valério e funcionários das agências de publicidade dele.
“Silvinho” recebeu 15 ligações do empresário Armênio Mendes, dono de casas de bingo em Santos (SP). Chamam a atenção, ainda, as 113 ligações telefônicas entre o ex-secretáriogeral  do PT e grandes construtoras – 65 dessas conversas com a OAS e 28 com a Odebrecht. 
Ele também discou para o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

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