segunda-feira, 28 de junho de 2010

Autor do Livro: Jornalista Ivo Patarra
CAPÍTULO 6 CONTINUAÇÃO (Parte 17)


nos postos que lhe interessavam, mantinha sob rígido controle. É ingenuidade achar que não sabia a origem dos recursos. Até porque o Delúbio não tem capacidade, nem origem, formação, preparo nem nada para montar um aparelho desse tipo. Vamos ser realistas. É um sindicalista do interior de Goiás, professor de carreira do Estado, neófito em São Paulo, nunca circulou nas rodas do poder e de repente adquire amizade sólida com um grande operador chamado Marcos Valério. É piada achar que fez isso da cabeça dele.
Sobre Lula:
- O Lula sempre geriu de perto as questões que envolvem sua relação de poder. Claro que não vai estar mandando fazer, mas saber, ele sabia. Não os detalhes. Comparando com a época que estourou o negócio do Teixeira: a primeira pessoa que soube foi Lula. Eu levei para ele, pessoalmente. E o tempo todo fingiu que não sabia. Evidentemente que Lula não operava, assim como não está operando hoje. Mas como ele sabia naquela época, ele sabe hoje, sempre soube.
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29/7/2005 Depoimento à Polícia Federal. É de João Cláudio Genu, assessor do deputado José Janene (PP-PR). Ele admite que fez vários saques em dinheiro vivo na agência do Banco Rural no Brasília Shopping. De setembro de 2003 e janeiro de 2004, foram R$ 850 mil em retiradas. Genu agiu por determinação de Janene e dos deputados Pedro Corrêa (PPPE) e Pedro Henry (PP-MT).
Genu nega que distribuiu dinheiro do mensalão a deputados do PP. Apenas transportou somas, como uma espécie de “mula”. Segundo Genu, ele pegava o dinheiro dentro da agência, em envelopes entregues por Simone Vasconcelos, executiva de Marcos Valério. Tudo ia para dentro de uma pasta tipo 007, sem conferir. Da agência bancária, Genu ia para o anexo do Senado, onde estão a presidência e a sede do PP. Lá funcionava uma espécie de tesouraria do PP.
A Polícia Federal monta esquema para proteger a vida de Soraya Garcia. Ela cuidou das finanças da campanha de Nedson Micheletti (PT) à Prefeitura de Londrina (PR) em 2004.
Militante do PT, acabou denunciando a sonegação de R$ 6,5 milhões nos gastos da campanha apresentados pelo PT à Justiça Eleitoral. Ela acusa o envolvimento do então deputado Paulo Bernardo (PT-PR), nomeado depois ministro do Planejamento de Lula, e de outro deputado, André Vargas (PT-PR). Declaração do promotor eleitoral Sérgio Correia de Siqueira sobre o caixa 2 que reelegeu Nedson Micheletti, com referências ao ministro Paulo Bernardo e ao deputado André Vargas:

- O que ela fala é que eles chegavam de Brasília num dia e o dinheiro aparecia no outro. O dinheiro surgia dentro de sacos plásticos de lixo ou em sacolas de lojas. Oficialmente, a campanha custou R$ 1,3 milhão. De acordo com os números de Soraya Garcia, foram R$ 7,8 milhões. Ela relatou ao promotor que foi incumbida de fazer duas planilhas de despesas.
Uma, em letras azuis, a oficial. A outra, em vermelho, mostrava o caixa 2.
Depois que os documentos eram impressos, os arquivos tinham de ser apagados do computador.
Soraya Garcia põe no rolo o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho (PT-SP). Ele é natural da mesma Londrina. Gilberto Carvalho foi procurado várias vezes para dar socorro financeiro à campanha de Nedson Micheletti. Olha a coisa batendo na porta de Lula, novamente.
Em entrevista ao repórter Sérgio Gobetti, do jornal O Estado de S. Paulo, o deputado João Magno (PT-MG), ex-prefeito de Ipatinga (MG), confessa que errou ao receber R$ 50 mil do valerioduto em 2003. Diz que o dinheiro foi usado para pagar dívidas de campanha do ano anterior:
- Não declarei. Não digo que a gente não deva respeitar a lei, mas se não jogar as regras do jogo tem de deixar a política. Recebi consciente de que era desvio da lei, mas essa é a regra do jogo no Brasil.
João Magno apresentou Marcos Valério, um velho conhecido, aos deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e José Mentor (PT-SP). Valério também tinha bom relacionamento com o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG). Agora, essa: para obter dinheiro do caixa 2 do PT, o petista João Magno procurou Valério, e não Delúbio Soares. A confissão:

- Foi quando perguntei se era possível ele liberar algum dinheiro, para pagar dívidas da minha campanha. Ele disse que dependia de ter o consentimento do Delúbio. Ele não entregaria dinheiro sem autorização do PT.

Em 2002, antes de conversar com Marcos Valério, João Magno já havia ido a Delúbio Soares procurar “ajuda financeira”. É revelador:
- Ele disse que ia ver o que era possível fazer. Naquele momento achei uma providência bastante solidária dele. Esse assunto não era discutido no Diretório Estadual, mas cada deputado sabia que existia essa fonte de ajuda.
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30/7/2005 Um documento do Banco Rural autorizava Roberto Marques, o “Bob”, amigo e uma espécie de ajudante-de-ordens do deputado José Dirceu (PT-SP), a sacar R$ 50 mil.
O dinheiro, da SMPB. A matéria está na revista Veja. A prova, um fax, veio em papel timbrado do Banco Rural, endereçado à agência da avenida Paulista, em São Paulo, em 15 de junho de 2004. Bob trabalhava na Assembléia Legislativa de São Paulo, não muito longe da agência da avenida Paulista.

O saque vivo dos R$ 50 mil foi no dia seguinte. Mas quem fez foi um certo Luiz Carlos Manzano, sob suspeição de trabalhar como contador na Bônus-Banval. A corretora teria dado um emprego a Michele Janene, filha do deputado José Janene (PP-PR). José Dirceu e Bob negam. Não sabem nada sobre o saque de R$ 50 mil. A revista:

“A confirmação de que o Roberto Marques do documento do Rural é o mesmo Bob ajudante de Dirceu foi dada a Veja na última sexta-feira pelo deputado Carlos Abicalil (PTMT).

Sub-relator da CPI dos Correios, o parlamentar contou que foi procurado pelo próprio Marques na semana retrasada para tentar esclarecer o aparecimento de seu nome nos documentos contábeis do Banco Rural. Segundo o deputado, o assessor repassou o número de sua identidade e do CPF, para que ele pudesse conferir com os documentos em poder da CPI. O resultado da pesquisa, nas palavras do deputado, foi o seguinte: ‘O número do RG conferia. Só não conferia o saque’, diz.”
Publicada a reportagem, Simone Vasconcelos, diretora administrativa e financeira da SMPB, confirma: Roberto Marques, o Bob de José Dirceu, recebeu mesmo autorização para o saque de R$ 50 mil. Carlos Abicalil evita a imprensa e não fala mais sobre o assunto.
Deve ter tomado uma bronca.
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1/8/2005 Marcos Valério faz tremer. Simone Vasconcelos depõe na Polícia Federal, em Brasília. Fornece uma lista elaborada por Valério, com os nomes de 31 pessoas. Traz os sacadores e beneficiários do mensalão. Todos autorizados pelo PT a fazer retiradas em dinheiro.
Total que saiu das contas bancárias das empresas de Valério: R$ 55,8 milhões. Um esclarecimento: nem sempre os beneficiários foram pegar quantias em cédulas no banco.
Os mais espertos mandaram assessores e familiares. Eis os principais nomes da lista, com os respectivos valores agraciados, por ordem de grandeza:

Duda Mendonça, publicitário e marqueteiro de Lula, responsável pela campanha eleitoral vitoriosa de 2002, R$ 15,5 milhões. Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, R$ 10,8 milhões. Diretório Nacional do PT, R$ 4,9 milhões. Deputado José Janene (PP-PR), R$ 4,1 milhões. Deputado Vadão Gomes (PP-SP), R$ 3,7 milhões. Manoel Severino dos Santos, presidente da Casa da Moeda e ligado ao PT do Rio de Janeiro, R$ 2,6 milhões.

Emerson Palmieri, tesoureiro do PTB, R$ 2,4 milhões.
Tome fôlego: deputado José Borba (PR), líder do PMDB, R$ 2,1 milhões. Marcelino Pies, tesoureiro do PT do Rio Grande do Sul, R$ 1,2 milhão. Anderson Adauto (PL-MG), ex-ministro dos Transportes de Lula, R$ 1 milhão. José Carlos Martinez, falecido ex-presidente do PTB, R$ 1 milhão. Deputado Paulo Rocha (PT-BA), R$ 920 mil, bem mais, portanto, que os R$ 420 mil identificados anteriormente.
Rodrigo Barroso Fernandes, ex-secretário do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT-MG), também está na lista de Marcos Valério, agraciado com R$ 774 mil.

Márcio Araújo de Lacerda, secretário-executivo do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB-CE), pegou R$ 457 mil. Roberto Costa Pinho, assessor do ministro da Cultura, Gilberto Gil, R$ 450 mil. Deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), R$ 400 mil.
E mais estes aqui, imperdíveis: Raimundo Ferreira da Silva Júnior, do PT do Distrito Federal, R$ 370 mil. Deputado João Magno (PT-MG), R$ 350 mil. Deputado Romeu Queiroz (PTB-MG), R$ 350 mil. Deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), o irmão de José Genoino, R$ 250 mil. Vilmar Lacerda, presidente do PT do Distrito Federal, R$ 235 mil. Deputado Paulão (PT-AL), presidente do PT de Alagoas, R$ 160 mil. Deputado Josias Gomes (PT-BA), R$ 100 mil. Deputado João Paulo Cunha (PT-SP), R$ 50 mil. José Adelar Nunes, tesoureiro do PT de Santa Catarina, R$ 50 mil. E deputado Professor Luizinho (PT-SP), R$ 20 mil.
A estratégia de Valério: convencer a Polícia Federal de que a lista dos R$ 55,8 milhões tem origem em empréstimos bancários, e que o dinheiro foi totalmente repassado, por meio de caixa 2, a pessoas indicadas pelo PT. Valério queria um acordo, o benefício da delação premiada. Um abrandamento de penas, para evitar possível condenação. Em troca, forneceria informações.
Mais alguns pedidos de Valério: ele não quer ser preso e quer o desbloqueio de R$ 1,8 milhão, aplicado no nome da mulher, Renilda Santiago.
Valério mantém pressão sobre o PT. Quer negociar, ser protegido. Por ora, ameaça: pode revelar os detalhes de suposta reunião entre cinco integrantes do PT e o vice-presidente do BMG, Roberto Rigotto. O encontro teria ocorrido durante o período de votação da Medida Provisória 130, que tratou de crédito consignado para aposentados. História enroladíssima, como se verá adiante. De qualquer forma, Valério jamais falou publicamente dos tais detalhes, durante a crise do escândalo do mensalão. Provavelmente, porque conseguiu o que desejava. Com o negócio, o BMG obteve exclusividade para operar créditos consignados, durante alguns meses. Fez um dinheirão.
Outro petardo: escancarados bastidores da relação entre Marcos Valério e José Dirceu (PT-SP), o superministro do presidente Lula. A psicóloga Maria Ângela Saragoça, ex-mulher de Dirceu, foi contratada pelo BMG em 2003. Trabalhava meio expediente em uma agência em São Paulo, por R$ 3.265. Um mês depois, obteve empréstimo de R$ 42 mil do Banco Rural.
O dinheiro foi usado para pagar parte do apartamento comprado por ela no tranquilo bairro de Perdizes, em São Paulo. Antes de comprá-lo, porém, Maria Ângela teve de vender o antigo imóvel, situado na Vila Madalena. Quem o comprou por R$ 115 mil foi o advogado Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério. Depois, alugou-o a Ivan Guimarães, petista que ocupou a presidência do Banco Popular do Brasil. O apartamento novo custou R$ 150 mil. O vendedor do imóvel concedeu entrevista ao jornal Estado de Minas. Maria Ângela foi comprá-lo com dinheiro vivo, trazido numa sacola.
Para anotar: a DNA, de Marcos Valério, fez campanha de lançamento do Banco Popular, braço do Banco do Brasil, sem licitação. Custos da campanha: R$ 25 milhões. O BMG aproveitou os bons ventos no governo Lula e fez lucrativa parceria com a Caixa Econômica Federal e o INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) para operar sistema de créditos consignados.
Voltando à ex-mulher de José Dirceu. O ministro pediu emprego a Valério para ela, logo após a posse de Lula. A notícia sai no Correio Braziliense. Dirceu não quer falar sobre o assunto.
Maria Ângela divulga nota: diz que foi apresentada a Marcos Valério por Silvio Pereira, um velho conhecido, de mais de 20 anos. Dirceu, segundo ela, não tem nada a ver com isso:
“Em setembro de 2003, encontrei-o (Silvio Pereira) em companhia do senhor Marcos Valério, a quem fui apresentada. Conversamos sobre minha situação profissional e o publicitário mineiro se colocou à disposição para me indicar alguma empresa que eventualmente necessitasse de meus serviços. Também disse que tinha contatos se eu precisasse de financiamento para a compra do novo apartamento.”
Renuncia o deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP). Ele preferiu perder o        mandato a correr o risco de ficar inelegível até 2015, caso fosse cassado por envolvimento no escândalo do mensalão. Ficou livre para se candidatar em 2006.                Valdemar Costa Neto não abriu mão do cargo de presidente do PL.
De Roberto Busato, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil):
- A renúncia não pode ser um salvo-conduto para a impunidade.

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