quarta-feira, 23 de junho de 2010

Autor do Livro: Jornalista Ivo Patarra
CAPÍTULO 6 CONTINUAÇÃO (Parte 11)


presidente do PT deixou a mágoa de lado e passou a xingar Delúbio pelos cantos do partido, em São Paulo”. Fernanda Karina Ramos Somaggio, ex-secretária de Marcos Valério, presta depoimento à CPI dos Correios. Reafirma denúncias e trata do relacionamento de Marcos Valério
com o deputado José Mentor (PT-SP). O petista foi o relator da CPI do Banestado, uma comissão de inquérito encarregada de investigar remessas ilegais de dinheiro para o exterior, em 2004:
- Uma vez, quando Mentor telefonou com uma notícia sobre a CPI do Banestado, o  senhor Marcos Valério mandou que eu pegasse as 25 pastas suspensas em que ele guardava notas fiscais e de investimentos e picotasse tudo. Foram feitos quatro sacos de papel picado. 
 Marcos Valério só saiu da minha frente quando eu tinha picado tudo.
Sobre a logística dos saques de dinheiro vivo no Banco Rural, em operações determinadas por Marcos Valério e tocadas por Simone Vasconcelos, pessoa de estrita confiança do empresário:

- A Simone ligava, avisando que os boys iam passar no banco e a agência abria mais cedo. Eram dois ou três boys que se dirigiam ao banco para dar garantia, em caso de assalto.

Acontecia pelo menos uma vez por semana. O dinheiro era acomodado em valises tipo 007, que ficavam no Departamento de Finanças da agência.
O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), quer a confirmação de que o dinheiro ia mesmo para parlamentares no Congresso Nacional. Fernanda Karina Somaggio descreve o procedimento de Valério:
- Ele falava algumas vezes com o Delúbio e depois ligava para outras pessoas, falando:
“Olá, deputado. Amanhã vou estar em Brasília”. Um dia que eu o ouvi falando isso teve um saque, e ele viajou no dia seguinte.
Movimentação bancária de Marcos Valério intriga a CPI e dá pistas sobre os caminhos a corrupção. Trata-se de um crédito de R$ 2,4 milhões, seguido de um débito no mesmo valor. A operação foi mapeada pela Receita Federal. Ocorreu no BMG, em nome da Graffiti Participações, empresa de Marcos Valério, em 14 de julho de 2004.
O curioso é o valor do crédito, o mesmo da dívida de R$ 2,4 milhões contraída em fevereiro de 2003 pelo PT, com o aval de Marcos Valério, no mesmo BMG. Outra coincidência:
naquele mesmo 14 de julho de 2004, Marcos Valério pagou R$ 350 mil da dívida do PT junto  ao BMG. E mais: o Imposto de Renda da Graffiti não faz menção à origem do dinheiro, nem dá qualquer justificativa para o depósito de R$ 2,4 milhões na conta da empresa.
A Câmara dos Deputados rompe contrato com a SMPB. A agência de Marcos Valério havia sido contratada por R$ 9 milhões em 2003, quando o presidente da Câmara era o deputado João Paulo Cunha (PT-SP). Durante a vigência do contrato, o petista assinou dois aditivos, autorizando acréscimos de R$ 4,7 milhões nos gastos de publicidade.
A Prefeitura de Osasco (SP), berço político de João Paulo Cunha e onde o prefeito, Emídio de Souza (PT), é aliado do ex-presidente da Câmara, anuncia o cancelamento de licitação para contratar agência de publicidade. Do certame, no valor de R$ 3 milhões, participavam 17 empresas. Vinha sendo liderado pela SMPB. Marcos Valério já prestara serviços em Osasco durante a campanha eleitoral, por meio da Estratégia Marketing, contratada para assessorar o então candidato Emídio de Souza.

Antes de anunciar o fim dos serviços da SMPB, o presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), sucessor de João Paulo Cunha, já havia autorizado mais R$ 8,2 milhões para a agência de Marcos Valério.

Em cena, o ministro Luiz Gushiken (PT-SP). O publicitário Alarico Neves Assumpção prestava serviços à agência DNA de Marcos Valério. Aí, assumiu importante cargo na Secom, a Secretaria de Comunicação da Presidência da Repúbica, comandada por Luiz Gushiken. Depois, acabou transferido para a SMPB, a outra agência de publicidade do mesmo Marcos Valério.

Alarico Neves Assumpção ocupou o posto de diretor de Mídia da Secom. Foi responsável pela supervisão de contas publicitárias do Governo Federal em ministérios e estatais.

Antes de ir para a SMPB, atuou no comitê do governo Lula que negociava preços de anúncios e respondia por gastos públicos com propaganda oficial.
A força de Luiz Gushiken vem da influência nos fundos de pensão de empresas estatais.

O ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini (PT-SP), é aliado histórico de Luiz Gushiken. Foi ele quem indicou o nome de Adacir Reis para chefiar a poderosa SPC (Secretaria de Previdência Complementar). Ela regula os 366 fundos de pensão do País, responsáveis por 960 planos de previdência complementar. Os fundos atendem 2,3 milhões de pessoas.
Negócio de R$ 280 bilhões.
Outro aliado de Luiz Gushiken, José Valdir Gomes, foi nomeado na diretoria de Assuntos Atuariais da SPC, para exercer o controle estratégico dos fundos de pensão. Já Sérgio Rosa é presidente da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, o maior do País. Tem patrimônio de R$ 70 bilhões. Como Luiz Gushiken, Sérgio Rosa começou no Sindicato dos Bancários de São Paulo. Veio de lá também outra indicação de Luiz Gushiken: Wagner Pinheiro, presidente da Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, o segundo maior do País. Patrimônio de R$ 24,9 bilhões.
Lula põe fim a boatos sobre a saída do ministro Luiz Gushiken:
- Eu quero dizer aqui, para todo o mundo ouvir, que o companheiro Gushiken continuará dirigindo a Secom. O companheiro Gushiken cuida não apenas bem da Secretaria de Comunicação, mas do mundo de assuntos estratégicos, que é uma coisa extremamente importante.
Eu acho que nós não podemos, a qualquer insinuação contra qualquer companheiro, a priori, achar que as pessoas são culpadas.
O deputado José Dirceu (PT-SP), por sua vez, defende a permanência de José Genoino no comando do PT. Em reunião do Campo Majoritário, a corrente hegemônica do PT, o exministro fala em “conspiração das elites”:

- Querem o impeachment do presidente Lula. É disso que se trata.

Agora, o loteamento de cargos na Fundação Real Grandeza, fundo de pensão dos funcionários de Furnas, cujo patrimônio é de R$ 4,8 bilhões. A reportagem de Irany Tereza, do jornal O Estado de S. Paulo, aponta um rateio entre os partidos políticos da base aliada do governo Lula:
“A presidência do fundo foi entregue a Marcos Antonio Carvalho Gomes, funcionário de Furnas, ex-sindicalista e petista do grupo do deputado Jorge Bittar (PT-RJ), e os demais diretores são indicados pelo PTB, PMDB e PP, num convívio administrativo extremamente conflituoso.”
Os investimentos do fundo de pensão estavam concentrados em bancos de segunda linha, como o BMG e o Banco Rural. As aplicações no Banco Santos, quebrado em 2004, provocaram perdas de R$ 153,6 milhões.
Os “investimentos” no Banco Santos levaram ao afastamento do gerente de Investimentos do fundo, Benedito Siciliano, da cota do PTB. Ele foi dispensado, apesar dos protestos do diretor de Administração e Finanças, José Dias, nomeado pelo PMDB.
De acordo com o Estadão, “aplicações desse tipo, de alto risco, costumam gerar do banco compromissos de elevada rentabilidade. A suspeita é de que parte desse rendimento seria desviada para financiar partidos políticos”.
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8/7/2005 Os jornais estampam nas primeiras páginas as fotografias de uma bolada de dinheiro.
Trata-se do conteúdo de uma maleta com R$ 200 mil e de outros US$ 100 mil, carregados escondidos dentro da cueca do assessor de um deputado do PT. Não qualquer deputado. José Adalberto Vieira da Silva, preso no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, trabalha para o deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), líder petista na Assembléia Legislativa do Ceará, integrante do Diretório Nacional do PT e irmão do presidente nacional do partido, José Genoino (SP).
Antes de se calar e se recusar a prestar esclarecimentos à Polícia Federal, José Adalberto Vieira da Silva age com rapidez para apagar a memória do telefone celular. Diz ser agricultor.
O dinheiro em seu poder, resultado da venda de verduras. Desmascarado, confessa ser assessor do irmão de José Genoino. Usa o paletó para cobrir o rosto e esconder-se dos fotógrafos.
José Nobre Guimarães, por sua vez, é um dos 14 parlamentares cujo nome aparece na agenda de Marcos Valério. Em entrevista, o deputado diz não saber por que seu nome está grafado entre os registros de Valério. Também ignora o que o assessor fazia em São Paulo.
Deputado do Ceará, José Nobre Guimarães estava na capital paulista, no mesmo dia da prisão. Explicação dele:
- Foi tudo uma grande armação para atingir a mim e ao Genoino. Vou desvendar esse mistério.
Silvio Pereira, o ex-secretário-geral do PT, depõe na Polícia Federal. Define-se como “dirigente profissionalizado da executiva nacional do PT”. Salário, R$ 9.000 mensais. O delegado Luís Flávio Zampronha de Oliveira considera incompatíveis salário e patrimônio declarado: um apartamento em São Paulo, no valor de R$ 180 mil, uma casa de praia em Ilhabela (SP), avaliada em R$ 400 mil, e um jipe da marca Land Rover, no valor de R$ 80 mil, que, segundo o depoente, foi financiado. Veremos.

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