terça-feira, 22 de junho de 2010

Autor do Livro: Jornalista Ivo Patarra
CAPÍTULO 6 CONTINUAÇÃO (Parte 10)

É possível que o afastamento de Silvinho já tenha a ver com a história do jipe Land Rover que o secretário-geral ganhou de presente de uma empresa contratada pela Petrobras. O assunto ainda não é público.
A imprensa põe as mãos em relatório de prestação de contas do PT, do ano de 2004. O documento foi registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Em dois anos, o partido do presidente Lula reconheceu que fez empréstimos de R$ 28,1 milhões junto ao Banco do Brasil, Banco Rural e BMG. O BMG entrou com R$ 2,4 milhões, e os detalhes foram revelados pela revista Veja. O Banco Rural, com outros R$ 5,1 milhões. E o restante, R$ 20,6 milhões, veio do Banco do Brasil, sendo a maior parte em contratos de leasing, para supostamente comprar 10 mil computadores e impressoras para o partido. A oposição estranha a relação entre o partido do presidente da República e o Banco do Brasil, que se recusa a divulgar garantias, avalistas, taxas de juros ou quaisquer dados sobre os contratos assinados com o PT. O Banco do Brasil também se nega a informar se as parcelas do empréstimo vêm sendo honradas pelo partido. Alega sigilo bancário. Balanço do próprio PT acerca do patrimônio líquido da sigla no final de 2004, porém, registra um resultado de R$ 24 milhões negativos.
Outra revelação: apesar de o PT não ter saldado a operação de crédito de R$ 2,4 milhões feita em 2003, o BMG destinou no ano seguinte mais da metade das suas doações às campanhas eleitorais do partido do presidente da República. Os dados são do TSE. Dos 26 candidatos que receberam R$ 795 mil do BMG, 20 pertenciam ao PT. Ficaram com R$ 505 mil da bolada.
Mais Marcos Valério. A Folha de S.Paulo apura que as agências DNA Propaganda e SMPB Comunicação, de Marcos Valério, registraram depósitos bancários de R$ 500 milhões em 2004:
“Especialistas do meio publicitário ouvidos pela reportagem calculam, com base em estimativas de gastos das duas agências com a compra de espaço para veiculação de comerciais, que os ingressos de recursos nas contas da DNA e da SMPB são três vezes superiores ao que poderia ser justificado com a atividade de publicidade e propaganda em 2004.”
No editorial “O amigo publicitário”, a Folha afirma que “a promiscuidade entre a vida financeira das empresas de Valério e a do PT tornou-se flagrante”:
“O episódio não é apenas constrangedor. Trata-se de uma acintosa violação aos mais elementares princípios republicanos. O fato de um publicitário responsável por contas de órgãos governamentais pagar dívida do partido do presidente da República já é, em si, um escândalo.”
A Agência Reuters divulga tabela com o cruzamento de dados do Coaf (Conselho de  Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda). Existem coincidências entre votações importantes no Congresso Nacional, para aprovar projetos de interesse do governo Lula, e saques de dinheiro das contas das empresas de publicidade de Marcos Valério.
A análise contempla R$ 21 milhões em retiradas, durante dois anos. Média de um mensalão de R$ 30 mil por dia. Nas datas de votação de projetos importantes para o governo, os saques diários subiam para R$ 106 mil.
O levantamento: a votação em segundo turno da Reforma Tributária na Câmara dos Deputados, em 24 de setembro de 2003, coincidiu com retiradas de R$ 1,2 milhão nos dias 23, 25 e 26 daquele mês. Em dezembro de 2003, a Reforma Tributária foi aprovada pelo Senado. Houve um novo pico de saques, no total de R$ 2,8 milhões, em janeiro de 2004.
Em março de 2004, o governo Lula precisou de apoio para neutralizar as investigações sobre o caso Waldomiro Diniz. Também queria aprovar Medida Provisória contra as casas de bingo, para sinalizar que não compartilhava das irregularidades. Retiradas no período:
R$ 1 milhão. Em seguida, mais R$ 700 mil, nos dias em que o Congresso debatia e aprovava o novo salário mínimo.  
Mais uma coincidência: a aprovação da Medida Provisória que deu status de ministro ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ocorreu em 1º de dezembro de 2004.
Graças a ela, Meirelles ficou com foro privilegiado para se defender de denúncias de crime leitoral, evasão de divisas, sonegação e lavagem de dinheiro. Dois dias antes, saques de R$ 80 mil no Banco Rural.

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5/7/2005 Cai Delúbio Soares, o tesoureiro do PT acusado de tantas falcatruas. O afastamento é disfarçado de pedido de licença. Delúbio Soares desliga-se do PT, mas trata de proteger o presidente do partido, José Genoino. Isenta-o de qualquer responsabilidade nas decisões da área financeira do partido. E manda a surrada cantilena: acusa “conservadores” e “setores da direita” pelo escândalo do mensalão. Insiste: tudo não passa de manobra, cuja orquestração tem o objetivo de aprovar o impeachment de Lula.
Integrante do Campo Majoritário do PT, Delúbio Soares é considerado por correligionários e gente do próprio governo um “homem-bomba”. Sabe demais. Sempre teve fortes ligações com Lula. A amizade com o presidente vem dos tempos de sindicalismo. Foi dirigente da CUT. Em 2000, entrou para a direção executiva do PT. Lula era o presidente de honra do PT. Participou de reuniões no Palácio do Planalto. Sem ocupar cargo no governo, foi convidado para eventos oficiais. Esteve na comitiva de Lula em viagem à África.
O líder do PMDB na Câmara, deputado José Borba (PR), volta atrás e agora admite conhecer Marcos Valério. José Borba, aliado do governo Lula, divulga nota à imprensa para refutar qualquer comportamento ilegal. O resultado é desastroso. Termina acusando Marcos Valério de negociar cargos no governo. A repercussão do caso faz Borba perder o cargo de líder do PMDB. A nota:
“Nunca recebi do senhor Marcos Valério qualquer numerário ou recursos financeiros, limitando-se o relacionamento ao fato de que o mesmo fazia parte do grupo do PT, que exercia efetiva influência político-administrativa junto ao Governo Federal.”
E mais: “O meu relacionamento com líderes do PT, integrantes de sua executiva nacional e o senhor Marcos Valério sempre foram delimitados pela tratativa da ocupação de cargos públicos, em razão de pleitos de integrantes de nossa bancada, sendo leviana e politiqueira qualquer especulação de favorecimento financeiro a deputados do PMDB”.
E, por fim: “O que discuti com dirigentes do PT e o senhor Marcos Valério é o que lideranças partidárias discutem hoje e sempre discutiram em todos os governos, a nomeação de seus partidários para cargos na administração”.
O Congresso instala a CPI do Mensalão. Mais uma derrota do governo. Durante dez dias, a bancada governista, orientada pelo Palácio do Planalto, tentou impedir a comissão de inquérito. Em seu lugar, propunha apurar a compra de votos, com a alegação de que era preciso investigar a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), ocorrida em 1998. Agora, com três CPIs em funcionamento, muda a tática do governo. A base aliada parte para confundir as investigações, tumultuar os processos, dispersar os trabalhos e cansar a opinião pública. Desmoralizar as CPIs.
Relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda) em poder da CPI dos Correios indica que a agência DNA Propaganda recebeu, durante os primeiros dois anos e meio da era Lula, R$ 419,2 milhões em depósitos, numa conta do Banco do Brasil em Belo Horizonte. A metade do dinheiro, R$ 219 milhões, foi depositada irregularmente, sem identificação da origem dos recursos.
O expediente contraria a legislação de combate à lavagem de dinheiro, que obriga os bancos a obter declarações dos clientes sobre a origem de depósitos com valores superiores a R$ 100 mil. Além disso, a informação sobre os depósitos precisa ser registrada no Banco Central. O relatório do Coaf também identificou, no último ano, uma movimentação de R$ 5,5 milhões, em dinheiro vivo. A quantia passou por uma conta da SMPB Comunicação, em agência do Banco Bradesco de Belo Horizonte. Marcos Valério obtém habeas-corpus para depor na CPI dos Correios sem correr o risco de ser preso.
Investigações mostram que Jacinto Lamas, tesoureiro do PL, esteve 15 vezes na agência do Banco Rural no Brasília Shopping, nos dois primeiros anos do governo Lula. As visitas foram registradas no sistema de segurança do edifício. Em nove das 15 vezes, houve saques que totalizaram R$ 2,3 milhões.
Jacinto Lamas frequentava o Banco Rural nos horários em que as agências bancárias estão fechadas, no começo da manhã ou no período noturno. O sistema de segurança também registrou o nome de Alexandre Chaves Rodrigues, motorista do então presidente do PTB, José Carlos Martinez. Esteve na agência em 14 de janeiro de 2004, dia de um saque de R$ 250 mil.
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6/7/2005 Marcos Valério depõe na CPI dos Correios. Nega conhecer o mensalão. Nega envolvimento em quaisquer irregularidades. Não satisfaz. Alega que pagou “fornecedores” com saques em dinheiro vivo de R$ 20,9 milhões. Tampouco convence quando diz que “a amizade por Delúbio” foi o motivo que o levou a ser avalista do empréstimo bancário de R$ 2,4 milhões ao PT. Parlamentares fazem graça da versão. Temendo a execução da dívida, Valério resolvera pagar uma parcela do empréstimo, no valor de R$ 350 mil.
Valério admite ter se reunido com o presidente do Banco Rural e o ministro José Dirceu (PT-SP) no Palácio do Planalto. Rechaça a hipótese de ter sido beneficiado em licitação que escolhia agência de publicidade para atender os Correios. E responde se fez doações a campanhas eleitorais:
- Se fiz alguma doação, foi dentro da lei... Doação, que me lembre, não. Como pessoa física, não fiz nenhuma doação.

Os empréstimos de R$ 20,6 milhões do Banco do Brasil para o PT derrubam dois dirigentes do banco. Caem os vice-presidentes de Finanças, Luis Eduardo Franco de Abreu, ligado ao PT, e o de Varejo, Edson Monteiro.
De novo o Coaf. Vem à tona que um procurador da Fazenda Nacional, Glênio Guedes, recebeu R$ 902 mil de Marcos Valério. Foram duas transferências, no final de 2003: uma de R$ 782 mil, outra de R$ 120 mil. À CPI, Valério disse ter conhecido o procurador num clube. Guedes foi afastado do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional. Motivo alegado: deu parecer a favor do arquivamento de um processo contra o Banco Rural. O jornalista Gilberto Alípio Mansur admite ter recebido R$ 300 mil da SMPB, por serviços prestados à agência de Valério. Suspeita-se que ele intermediou encontro de Valério com a direção da Editora Três, que edita a revista Isto É, para evitar a publicação de entrevista com Fernanda Karina.
Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, Carlos Rodrigues (PLRJ), acusado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser um dos deputados operadores do mensalão, reconhece que se reuniu com Delúbio Soares e Silvio Pereira para fazer “negociações políticas”.
Carlos Rodrigues lista as nomeações que fez no governo Lula: dois diretores da Companhia Docas do Rio, um diretor do Serviço de Patrimônio da União, o diretor-administrativo do Portus, fundo de pensão do sistema portuário, e um diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).
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7/7/2005 E surge mais um empréstimo guardado em segredo pelo PT. O site da revista Época na internet divulga operação de crédito no Banco Rural, de maio de 2003, no valor de R$ 3 milhões. O PT é o beneficiário e o avalista do empréstimo, mais uma vez, Marcos Valério. Ele assina a transação com o presidente petista, José Genoino, e com o tesoureiro, Delúbio Soares.
Da reportagem dos jornalistas Ricardo Mendonça e Eliane Brum: “As novas revelações caíram como um petardo sobre a imagem pública do PT. E, da porta para dentro, o partido implodiu. Quando surgiu o primeiro empréstimo garantido por Valério, no BMG, Genoino negou sua existência depois de consultar o tesoureiro Delúbio Soares. Desmentido publicamente e desgastado, Genoino entrou em depressão e se confessou magoado com Delúbio, que não o teria informado corretamente. Na quinta-feira, quando foi procurado por Época para falar do novo empréstimo, a respeito do qual novamente não tinha o que explicar, o 

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